Homeopatetices e o efeito Streisand
Larry Moran, o autor do livro onde estudei bioquímica, conta no seu blog que a pessoa que colocou na internet este vídeo, que de facto ilustra a estupidez extrema de quem acredita em homeopatetices, recebeu uma intimidação do advogado da auto-denominada «doutora» (em banhas da cobra, certamente) para retirar imediatamente a coisa do Youtube, ameaça que já surtiu efeito no passado. Claro que o aviso será, como o faço aqui, divulgado por todos os lados da internet e apenas fará despoletar o efeito Streisand.
Vale a pena assistar a esta coisa e confirmar como é possível debitar em apenas 8 minutos esta quantidade de dislates! No caso de os homeopatetas conseguirem de novo retirar esta pérola do YouTube, que explica de facto o que é a homeopatetice, podem ver aqui a transcrição desta sandice e ignorância total de ..., bem tudo.
«Vocês pensam que são uma quantidade de massa, certo? Bem, toda a massa universal pode ser consolidada numa coisa do tamanho de uma bola de bowling. Isso é tudo o que há no mundo inteiro e no Universo! Assim, quanta massa são vocês? É verdade -- uma quantidade infinitesimal. Assim, se pegarem naquela fórmula -- E igual a M C ao quadrado -- quase que se pode cortar a massa! A fórmula reduz-se a ser energia igual à velocidade da luz. E por isso é que a visão é tão importante [aponta para os olhos] porque nós temos montes de fotoreceptores que recebem luz».
Não percebi muito bem porque razão, se o objectivo era arranjar uma relação entre energia e luz, a senhora não foi buscar a relação de Planck, embora admita que nem E=hν= h c/λ (que pelo mesmo raciocínio de «cortar» tudo o que é pequeno também se reduziria a E=c) nem Max Planck são tão sexys e famosos quanto Einstein e a sua equação. Suponho por outro lado que ninguém se tenha lembrado de fazer contas, com um átomo de carbono, por exemplo, mas para os homeopatetas, que trabalham a diluições infinitas, os 90 mil biliões (9x1016 J) que resultam de «cortar» a massa devem ser praticamente iguais, mais diluição CH menos diluição CH, aos 0.00000000018 (ou 1.8x10-9) J que resultam na ausência do «corte». Mas pensaria que mesmo o mais iliterato científico perguntasse o que cargas de água tem E=m (cortado ou não)x c2 a ver com visão (passe o trocadilho).
A parte que mais me divertiu é aquela em que a senhora nos explica que a massa de facto não existe e que tudo é na realidade energia e energia é vibração e vibração significa que se os dejectos do cão do meu vizinho me chatearem e eu deitar uma bomba na casa do meu vizinho apenas lhe mudo a sua forma estrutural e isso é a homeopatetice (Ufa).
Acho de facto apropriado usar dejectos de cão para explicar o que é a homeopatetice mas maça-me que os homeopatetas deturpem ciência desta forma simplesmente patética no afã de justificarem «cientificamente» as suas banhas da cobra. Por exemplo, é assombroso descobrir que a teoria de cordas, que nos foi «dada» por Deus por intermédio de Stephen Hawkings (sic), permite um «diagnóstico» instantâneo de tudo e mais umas botas. Parece que os homeopatetas concluem da teoria de cordas que esta descobriu umas «novas» partículas energéticas em forma de «youees» (aceitam-se apostas sobre o que será um youee), facto que os permite afirmar que «cada um de nós vibra com uma certa vibração. Nós ou vibramos com uma planta, um mineral ou um animal».
Ou seja, estas «vibrações» youeeisticas, embora desconhecidas da ciência, somadas à teoria da relatividade (restrita, sem trocadilhos, a E=c2) são a alma matter da homeopatetice já que nos ligam misteriosamente (gluões youeeisticos ?) a vegetais e calhaus - se bem que um calhau seja exactamente o que me faz lembrar quem diz estes disparates.
A mística energia dos youees permite aos seus visionários concluir, só de olhar para um «paciente» com um joelho «squeaky», não só que este era «assim como que resistente à insulina, a modos que a caminho de um estado de diabetes» mas também que vibrava «em ressonância» com bicarbonato de potássio - a Kali carbonica que é de facto eficaz a tratar acidez do estomâgo, tão eficaz quanto uma pastilha Rennie, carbonato de magnésio, ou sais de fruto, bicarbonato de sódio, mas que diria ser impotente para tratar os sintomas da oradora, que parece padecer dos efeitos de outro ácido que não clorídrico.