porque quando ofendes um de nós é a mim que ofendes
na caixa de comentários deste post do blasfémias, a actriz joana manuel diz isto.
Joana Manuel disse
Chamo-me Joana Manuel. Sou actriz de profissão, é verdade, ao contrário da minha amiga e companheira activista Raquel Freire, que é realizadora de cinema e nada obscura como tal. Não estive em frente à AR como actriz, mas como activista. Sou —ou estou— heterossexual, é verdade, mas isso é do meu foro privado. Do meu foro público é a cidadania e a luta por uma sociedade mais democrática e mais igual. Esta luta é tão minha como de qualquer lésbica, e ir para a cama com homens não me retira o direito de dar a cara por aquilo em que acredito. Não admito essa discriminação.
Toda a gente fala da minha heterossexualidade como se os jornalistas tivessem descoberto um facto extraordinário e obscuro. Não descobriram, ele nunca foi escondido, nem na acção original dos casamentos encenados, em Outubro de 2008. Sabem que não sou lésbica porque eu o disse. A luta é minha porque os homossexuais deste país são meus concidadãos e eu respeito-os e defendo-os como tal. Ao fazê-lo estou a defender-me a mim. Eu sou eles. Eles são parte do meu nós.
A acção foi planeada de véspera, a Raquel propôs-se a dar a cara e eu fui a primeira pessoa para quem ela telefonou. Somos amigas, foi um gesto natural. Nenhuma outra mulher se recusou porque a nenhuma outra mulher foi proposto, tão simples como isto. Para nós é absolutamente irrelevante a orientação sexual [a minha, digo, é a oeste, porque gosto particularmente dos Açores]. Pelos vistos há pessoas que não entendem muito bem o que é a cidadania. Mas como dizia Brecht, depois de levarem os ciganos, os judeus, os pretos, os homossexuais, os comunistas, talvez levem essas mesmas pessoas e elas comecem a perceber do que falo.
Ninguém me contratou. Ninguém me pagou. Assumi uma luta que é minha e dei a cara por ela porque se proporcionou. E orgulho-me disso. Espero que tenha sido clara.
(sublinhados a bold da minha responsabilidade)
extraordinário que alguém precise que isto se explique. extraordinário que alguém ache sequer que a pretexto daquilo que foi obviamente uma encenação (ou alguém achou que aquilo era mesmo um casamento?) pode retirar consequências do facto de as participantes da mesma não se quererem mesmo casar uma com a outra. espantoso que alguém não perceba que a luta pela igualdade é, como o nome indica, uma luta de gente que se crê igual, em tudo, aos outros -- o que implica ver os outros como parte de nós, como tão bem a joana explica.