só um bocadinho, não esperava mais
descobri a blogosfera, coisa que nem sabia o que era, num blogue de jornalistas (ana sá lopes, nuno simas, joão pedro henriques), o glória fácil, em maio de 2005. em finais de 2006, fui convidada pela joana amaral dias para integrar o 5 dias, que então funcionava na lógica 5dias/5pessoas, para 'substituir' o rui tavares.
mais ou menos na mesma altura, o daniel oliveira teve a ideia de formar um blogue de campanha para o sim no referendo de 11 de fevereiro de 2007 -- precisamente intitulado 'sim no referendo'. pedi ao colectivo 5dias (então joana amaral dias, rui tavares, ivan nunes, nuno ramos de almeida e antónio figueira) para entrar só após o referendo já que não conseguiria escrever para tantos blogues ao mesmo tempo (entretanto também colaborava com o carmo e a trindade, um blogue sobre lisboa) e concentrei-me no blogue lançado pelo daniel. propus ao daniel nomes para o blogue a partir, exclusivamente, do que lia dessas pessoas. havia três, os fundadores do womenage, que só conhecia pelos pseudónimos (shyznogud, fuckitall e cenas obscenas). julgava que eram três mulheres e afinal eram duas mulheres e um homem. só soube disso depois do convite: interessava-me o que aquelas pessoas escreviam e o modo como pensavam, não quem eram.
o daniel funcionava exactamente no mesmo pressuposto. por esse motivo convidou o miguel abrantes, do câmara corporativa. e a mim, que nunca o tinha visto a não ser na tv e que ele decerto nunca vira a não ser em foto (no dn). na verdade, no sim no referendo, quando arrancou, eu só conhecia pessoalmente um membro, a helena matos: a maioria dos participantes eram completos desconhecidos.
viemos a conhecer-nos, todos. todos mesmo. por mail, por telefone (tinhamos todos os telefones uns dos outros), pelos nomes de bi. viemos até a conhecer-nos pessoalmente: primeiro no primeiro prós e contras, depois em jantares. fiquei amiga de algumas dessas pessoas -- de algumas muito amiga mesmo.
quando o 5dias foi 'alargado', em 2008, grande parte dos convidados para o integrar eram meus conhecimentos do sim no referendo -- a shyznogud, a fuckitall, o cenas obscenas, o joão pinto e castro, a palmira silva. acrescentei o joão galamba, que gostava de ler no metablogue, e a ana matos pires, que não tinha blogue mas era frequentadora assídua das caixas de comentários (e que é irmã da shyznogud/maria joão pires). e quando o 5dias encolheu de novo, em outubro de 2008, para criar o jugular, quem saiu era na sua maioria gente que tinha integrado o sim no referendo e que se conhecia já entre si, mas houve quem viesse -- o rogério da costa pereira -- sem nunca nos ter posto a vista em cima ou nós a ele.
para concluir: na sua maioria, as pessoas que integram este blogue conheceram-se na blogosfera e aproximaram-se pelo que escreviam, sem nunca se terem visto. confiámos uns nos outros e estabelecemos uma ligação -- um blogue é uma ligação e um pacto -- com base em ideias e textos. mais nada.
há imensos blogues que leio cujos autores não conheço nem nunca conhecerei. uns têm nomes 'de gente', outros não. não sei, por exemplo, quem é o valupi mas isso não me impede de o achar um dos melhores blogueres portugueses. o mesmo digo do besugo. e do maradona, cujo nome hoje já sei mas a quem adorei anos de amor louco sem essa informação.
quanto ao miguel abrantes, sei quem é. como se chama, e o que faz; tenho o número de telefone dele e encontro-o de vez em quando. conheci-o, como já disse, no sim no referendo e por causa do sim no referendo. através do convite do daniel oliveira, portanto -- pode-se dizer que conheci o miguel abrantes através do daniel oliveira. sim, o daniel oliveira, como muitas outras pessoas que hoje escrevem coisas indignas sobre o miguel abrantes, já viu o miguel abrantes. esqueceu-se da cara dele, talvez tenha até esquecido o que ele faz e o telemóvel dele. o daniel, como tanta gente que devia ter vergonha do que escreve e diz, embarcou alegremente na teoria pachequiana dos 'assessores anónimos' e das 'informações privilegiadas' e das 'ameaças' e dos blogues 'do governo'. gostava imenso que toda esta gente, a começar pelos jornalistas que assinaram as desonrosas peças do correio da manhã, especificasse o que é 'informação privilegiada' e exemplificasse onde é que ela está nos blogues que citam.
gostava imenso de ver as pessoas que se indignaram com este post e que preferiram ler nele um 'aviso' e não uma ironia a indignar-se -- tão publicamente como fizeram em relação ao primeiro -- com o facto de haver pessoas bem identificadas a decretar 'a desonra e o ostracismo' de outras por terem, segundo as primeiras, 'defendido este governo'. gostava que quem escreve, por exemplo, que o jugular 'defende cegamente' este governo ou que quem insinua, como tantas vezes já vi escrito, que o jugular recebe ordens ou até dinheiro com base na primeira asserção -- tão falsa como as segundas -- se aprestasse a provar o que afirma.
gostava de ver um bocadinho mais de honestidade, um bocadinho mais de racionalidade, um bocadinho mais de decência. só um bocadinho já não era mau. mas estou a ficar sem esperança.
adenda: lembraram-me de que conhecia pessoalmente outra pessoa do sim no referendo à data do lançamento do blogue, o vasco m barreto. aqui fica a rectificação.