the F word
Nos idos de 90 passei uns belos anos a fazer jornalismo em revistas femininas. Foram tempos épicos em que temas como a violência de género, a discriminação salarial ou o direito de cada um à sua identidade sexual ganharam - por direito próprio, resiliência de estruturas de luta e afirmação de direitos elementares, mas também pela prática de redacções como as da Marie Claire, da Elle ou da Máxima - lugar na agenda mediática. E em que várias mulheres, fazedoras, visionárias, normalmente extraordinárias, tiveram direito a microfone e fotografia pela primeira vez. (Tudo isto, claro, a par com textos palermas sobre coisas que definitivamente não interessam ao menino jesus, por exemplo esse instrumento de tortura caído em desuso chamado revirador de pestanas. Já se me varreu o nome científico da coisa mas não o gozo que me deu escrever sobre a coisa.) Ora a algumas dessas mulheres, empreendedoras fantásticas as mais das vezes ignoradas pelos pares e pelos media, ouvi-as eu tropeçar, à minha frente, na f word. Questionadas sobre a prática pessoal do feminismo respondiam eu não sou feminista, sou feminina. Assim tipo eu não sou anti-racista, sou preta. Ou, ainda mais alarve, eu não sou uma gaja façanhuda que anda por aí largada a queimar roupa interior e a dizimar machos. Passaram 20 anos e a coisa continua. Contar até dez e perguntar o que é que isso quer dizer nunca disfarçou a minha irritação (a estupidez tira-me do sério) e jamais me fez ouvir um argumento inteligente. Portanto e mais uma vez e a bold: o feminismo é uma questão de direitos humanos. Porra, uma pessoa cansa-se.