ah a História, essa água de Lourdes
Água de Lourdes (se calhar a de Fátima faz o mesmo efeito), que as avós tinham numas coisinhas transparentes de plástico com o santuário e "neve" lá dentro. Ou, em alternativa, nuns recipientes, pronta para unções e rezas. Era bom, ajudava, fortalecia a convicção, o fervor. Era um instrumento da fé popular. A História? Podia repetir aquela minha máxima (há-de constar na minha tumba, e pagarei por ela por toda a eternidade, de que "é a puta mais deslavada e maltratada de que há memória, de quem toda a gente se serve e que ninguém respeita nem paga o devido preço pelo uso e, quantas vezes, abuso"), mas hoje não quero fazer misturas explosivas. Prefiro dizer que é como a água de Lourdes, salvaguardadas as devidas - e não são poucas - diferenças entre fé e fala-baratice. Convém sempre ter à mão, fica sempre bem, ninguém leva a mal, disfarça ignorâncias, pode ser usada sem receio de alguém chamar nomes, fica bem na fotografia, é um direito pessoal de cada cidadão, não cobra direitos nem reclama, não paga imposto, não protesta, grunhe, uiva, dá traques ou cheira mal da fossa sética. A História é um maná infinito e renovável, no dia em que alguém descobrir uma forma de produzir energia a partir dela, Portugal dominará o mundo.
"Os Portugueses que exportam são hoje uma espécie de navegadores de há quinhentos anos. Comportam-se como verdadeiros heróis", escreve Marques Mendes no último número da Visão. Irra, que se o populismo baratucho produzisse esteróides, os nossos comentadores eram uma casta de gigantes.