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jugular

Sinais do fim...

 

 

O parágrafo reproduzido acima consta do número dedicado ao 25 de abril da Valores Próprios, revista do Instituto Superior Técnico, que merece leitura. Ao dar com esta passagem lembrei-me de conversas com o João Pinto e Castro, quando nos descreveu o ambiente vivido na Faculdade de Economia nos últimos dois anos do Estado Novo. A maioria de nós, jugulares, éramos uns putos em abril de 74 (fora os que ainda não tinham nascido) e conhecíamos, porque são bastante faladas, as crises académicas de 62 e 69 mas aquilo que o João nos descrevia era-nos quase desconhecido, professores que desistiam de tentar dar aulas, alunos em auto-gestão...na imprensa da época é escusado procurar referências  ao que se passava em, pelo menos, algumas universidades lisboetas. Paralelamente, e num (só) aparente paradoxo, são anos em que a repressão política, através da prisão, endurece.  O João já cá não está para nos continuar a contar as histórias desses anos de estertor do Estado Novo mas eu gostava de ouvir outros como ele contá-las...

Hoje e amanhã, sempre!

Quem como eu nasceu em África pode ter passado muito tempo sem perceber o que foi, como se fez e porque se fez o 25 de Abril. consciente ou inconscientemente, mais ou menos amargamente, a maioria das famílias de portugueses das colónias acabou por viver a consciência da Revolução como símbolo do princípio do fim – um símbolo de perda e não de conquista. naquele meio da década de 1970, muitos dos milhares de portugueses que chegaram a Portugal vindos de África estavam a aterrar sem nada num país pequeno e escuro ao qual tinham já poucas ou mesmo nenhumas ligações. muitos, provavelmente a maioria, não percebiam sequer a política nacional – não tinham vivido a ditadura ou tinham-na esquecido e a convulsão social do PREC, em vez de um caminho rumo à luz, provavelmente não diferia muito, a seus olhos, de uma continuação do estado de alerta da guerra que tinham deixado para trás. de resto, por aqueles dias tinham mais o que fazer do que pensar em política: para eles, era o momento do tudo ou nada da sobrevivência – a luta pela vida era omnipresente e omnipotente. para nós, os filhos, foi um vazio que as escolas também não serviram para preencher quando nomes como o de Salgueiro Maia não constavam dos livros ou chegavam sequer a ser mencionados. Acho que só a partir dos 20 anos comecei a perceber o 25 de Abril. fiz por perceber. e percebi. e não vejo que haja desculpa para que alguém não perceba. o 25 de Abril é todos os dias – é todos os dias que as suas conquistas devem ser exercidas e defendidas, contra tudo e contra todos. e sair à rua hoje e amanhã para celebrar o direito a essa constante luta que é a vida em democracia é um dever, uma responsabilidade de todos os que acreditam na liberdade.

Só umas palavrinhas à conta da efeméride de amanhã

Amanhã faz 40 anos que houve a revolução do 25 de Abril e que a minha vida deu uma volta de 180º. Assim de repente (e à época) para pior. Fartei-me de perder privilégios, que a bem dizer nem sabia que o eram, pois pensava que toda a gente vivia como eu.

Como já várias vezes referi assisti à revolução pela televisão, a preto e branco e de robe aos quadrados, estupefacta, eu e os meus irmãos com tanta gente aos gritos em cima de carros de combate, soldadesca sorridente e barbudos que nunca mais acabavam. Cravos à mistura. Não saímos de casa durante quatro dias. 
Rapidamente percebi (graças aos neurónios e não a deus) que a liberdade era a melhor coisa que havia no mundo. E que dali para a frente, tudo aquilo que me via a ter de aturar por estar naquela "gaiola dourada" ia pró galheiro. Lá por casa sempre diziam "o futuro a deus pertence". Mas eu sabia que o meu futuro era eu que o ia decidir. E decidi. Graças ao 25 de Abril (e à minha teimosia). Tinha treze anos.
E teimosamente repito, hoje aos cinquenta e três, 25 DE ABRIL SEMPRE!

(homem  lê o Jornal, sentado num candeeiro público, enquanto a revolução acontece, debaixo dele

Lisboa, 25 de Abril de 1974 - Fotografia de Carlos Gil)

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