Em Abril, contei que, em resposta às queixas de pais que não queriam os seus filhos sem nada para fazer enquanto os colegas memorizam versículos das escrituras, o ministro da educação Nova Gales do Sul aprovou uma actividade alternativa para os estudantes que não querem ser doutrinados em «educação religiosa especial» (SRE). Nesta cadeira de ética, os alunos praticam pensamento crítico (sempre uma actividade subversiva), discutem questões do que é certo e do que é errado, enfim iniciam-se em filosofia. Devido à torrente de críticas de todas confissões cristãs do país, a disciplina foi oferecida, numa primeira fase, em apenas dez escolas, uma delas aquela em que este vídeo foi filmado.
Não me parece que algo de errado se passe com estas aulas mas essa não é a opinião de um consórcio de igrejas cristãs, incluindo anglicanos, católicos e baptistas, que parecem furiosos com o facto de em 10 míseras escolas alguns miúdos escaparem às aulas de doutrinação cristã. Pelo menos é o que parece do documento de 12 páginas que publicaram, que explica porque é que estas aulas são uma ameaça e porque é que o governo deveria envidar todos os esforços para que todos os alunos australianos sejam devidamente proselitados. Para além do disparate sobre Darwin na página 11 e das pretensas preocupações com as crianças que «don’t get the advantage an educationally sound SRE programme delivers», esta justificação para abolir a coisa arrumou-me:
The lessons in ethical thinking (...) are antithetical to both the Christian faith and all faiths that have a “higher court of appeal.”
Claro que as verdadeiras razões da oposição cristã à ética são outras e podem ser devidamente apreciadas neste vídeo, que infelizmente o Youtube não deixa embeber. Ide ver e aprender :)
"a teoria evolucionista, como qualquer outra teoria, é questionável. Se o não fosse estaríamos perante um dogma". Tem a certeza que tudo o que não é questionável é um dogma?! "A ciência ao apresentar-se como uma verdade, a verdadeira explicação para múltiplos fenómenos, constitui-se como uma religião"!!! Também acha que a Medicina é uma religião? Ou a Biologia? Ou a Matemática? Religião e Ciência, "ambas radicam numa subjectividade"!!! Acha que as bactérias e os vírus também são uma subjectividade? E o modo de os combater?
Se nós realmente não somos o resultado de uma evolução, mas sim uma criação especial, porque é que Deus nos fez tão parecidos com os outros animais? Porque precisamos de comer e de beber, se isso só implica ter que ir à casa-de-banho? Porque temos frio e calor? Porque não somos auto-suficientes e destituídos de necessidade de higiene? Porque temos instintos e impulsos?
E porque será que eu, quanto mais entendo os animais, mais aprendo sobre os humanos?
A psicossomática, por exemplo, acha que a forma de combater "doenças" implica uma subjectividade relacional. Por exemplo, a criança que se aleija e começa a chorar encontra na mãe um alívio para a sua dor (este exemplo é retirado de um artigo de um psicanalista português). Será que sabemos tudo sobre vírus e bactérias e as formas de os combater? A medicina, a biologia, a matemática e outras ciências ditas exactas estão em evolução: o que hoje é “verdade”, amanhã, perante uma nova descoberta, pode já não ser – é isso que separa estas ciências da astrologia ou de explicações religiosas. Mas na essência trata-se de cosmovisões e de formas de poder. Quanto às suas dúvidas teológicas, não posso dizer nada – não é minha especialidade. Mas já agora, e também em resposta ao João, gostava de lembrar uma hipótese que não é criacionista nem evolucionista e que passa em alguns documentários televisivos: a de que a humanidade descende de extraterrestres. É só mais uma cosmovisão, vale o que vale: o que quiserem dar por ela.