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jugular

Mas esta gente não tem um pingo de vergonha histórica na cara?

Depois de um dos membros do seu círculo íntimo no Vaticano, o cardeal Walter Kasper,  ter sido dispensado da visita papal ao Reino Unido por ter referido o país como «uma nação do terceiro mundo» nas garras de «um ateísmo novo e agressivo»,  Bento XVI considerou que a melhor forma de inaugurar a mui contestada visita era insultar os britânicos, secularistas, ateus e todas as pessoa com um pingo de vergonha na cara.

 

O discurso de B16 foi tão delirante e surreal que chegou a ser hilariante. Num ponto alto de delírio - e simultaneamente de ironia simplesmente deliciosa - o Papa dirigiu-se á audiência, na qual se incluía a Rainha, a «chefe» da Igreja Anglicana,  exortando os presentes a não esquecerem as «fundações cristãs em que se baseiam as liberdades [do país]», esquecendo que foram os abusos dos reis católicos, ou antes, os seus «valores tradicionais e expressões culturais», que levaram à criação da Carta de Direitos britânica.

 

O nonsense total da alocução revelou-se em todo o seu esplendor quando o Papa assacou ao ateísmo as culpas do nazismo e do Holocausto - o que levou o tresloucado presidente da Liga católica americana a exigir que os ateus pedissem desculpas pelo Holocausto -,  e continuou afirmando que  «the exclusion of God, religion and virtue from public life leads ultimately to a truncated vision of man and of society and thus to a reductive vision of the person and his destiny,» e exorta a audiência a nunca esquecer «those traditional values and cultural expressions that more aggressive forms of secularism no longer value or even tolerate.»

 

Não sei bem em que valores tradicionais e expressões culturais que a laicidade não tolera estará Ratzinger a pensar. Será que está a referir, sei lá, o abuso sexual endémico de crianças? Ou o encobrimento desse abuso? Ou os «valores» tradicionais que condenam à morte os homossexuais? Os que são responsáveis por séculos de discriminação das mulheres? Ou aqueles que condenam o uso de preservativo como medida profiláctica da infecção com o HIV? Ou aqueles que condenam à morte mulheres a quem é negado o tratamento médico que lhes salvaria a vida? Só consigo perceber a quantidade abissal de tolices que o Papa debitou neste discurso considerando que teve um momento de insanidade total no momento da escrita e outro na altura de debitar a prosa.

 

«Assim, nós assumimos a luta contra o movimento ateísta, e não apenas com algumas declarações teóricas: nós eliminámo-lo»
Adolf Hitler, discurso em Berlim, 24 de Outubro de 1933.

«Escolas laicas não podem alguma vez ser toleradas porque escolas dessas não têm instrução religiosa; uma instrução moral sem fundação religiosa é construída no ar; consequentemente toda a formação de carácter deve ser assente na fé»
Adolf Hitler, discurso de 26 de Abril de 1933.

«Imbuídos do desejo de garantir para o povo alemão os grandiosos valores religiosos, morais e culturais enraízados nas duas confissões cristãs, nós abolimos as organizações políticas mas fortalecemos as instituições religiosas»
Adolf Hitler, discurso no Reichstag, Berlim, 30 de Janeiro, 1934.

«Porque os seus interesses [da Igreja] não podem deixar de coincidir com os nossos na luta contra os sintomas de degenerescência no mundo de hoje, na nossa luta contra a cultura bolchevique, contra o movimento ateísta, contra a criminalidade e na nossa luta por uma consciência de comunidade na nossa vida nacional». Adolf Hitler, discurso em Koblenz, 26 de Agosto de 1934.

Um artigo publicado no jornal Lansing State Journal (Lansing, Michigan) de 23 de Fevereiro de 1933 dá conta das intenções do nazismo em combater o ateísmo, via uma campanha contra o «movimento sem Deus». (Associated Press. 1933. Hitler aims blow at 'Godless' move, Lansing State Journal, Michigan, Feb. 23, 1933).

 

Hitler, Stuttgart 15 de Fevereiro de 1933: "Today they say that Christianity is in danger, that the Catholic faith is threatened. My reply to them is: for the time being, Christians and not international atheists are now standing at Germany’s fore.

I am not merely talking about Christianity; I confess that I will never ally myself with the parties which aim to destroy Christianity. Fourteen years they have gone arm in arm with atheism. At no time was greater damage ever done to Christianity than in those years when the Christian parties ruled side by side with those who denied the very existence of God. Germany's entire cultural life was shattered and contaminated in this period. It shall be our task to burn out these manifestations of degeneracy in literature, theater, schools, and the press—that is, in our entire culture—and to eliminate the poison which has been permeating every facet of our lives for these past fourteen years."

Alguns discursos de Hitler podem ser encontrados aqui. A colecção completa, incluindo as citações reproduzidas, pode ser apreciada em Norman H. Baynes, ed., The Speeches of Adolf Hitler, April 1922-August 1939. Vol. 1. Oxford: Oxford University Press, 1942, p. 240.

9 comentários

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    nuvens de fumo 17.09.2010

    MRC

    assim como a esmagadora maioria dos ateus defendem,


    Ai sim e retirou esse pensamento de onde ?Mostre lá onde estão a esmagadora maioria dos ateus ou afirme-se desde jáo que é : um mentiroso

    Não há pachorra
    Se me mostrar eu peço-lhe desculpas, senão escolha as armas Image
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    MRC 17.09.2010

    Caro Nuvens de Fumo
    Se for ler os principais ateus da actualidade ou os posts da Palmira, F. e outras senhoras deste blogue vai constatar esta ideia: Deus tem que estar afastado das opções do Estado nas suas várias vertentes de educação, saúde e justiça porque há separação entre Estado e Religião.
    Mas esse raciocínio da separação só é defendido para a religião mas já não existe para o relativismo que é, à semelhança de qualquer religião, também ele uma filosofia de pensamento e de acção.
    Logo se o Estado é laico que o seja para as correntes de pensamento cristãs, gnósticas ou agnósticas, relativistas ou quaisquer outras.
    Só que, na prática, nós sabemos que isso não funciona assim que, na educação, na saúde ou na justiça é impossível que o Estado actue com absoluta neutralidade em relação a qualquer corrente de pensamento.
    A questão é esta, se o pensamento cristão não deve afectar o Estado, porque é que o relativismo, como corrente de pensamento já o pode afectar. Não é ele também uma corrente de pensamento à semelhança de outras que concorrem na sociedade?
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    nuvens de fumo 17.09.2010

    Olhe hoje é sexta , vamos fazer assim segunda voltamos ao tema, por hoje não dá mais, torna-se complicado.
    preciso de umas  ImageImageImagepara relaxar ao fim dia.

    Olhe parece que o outono está a chegar, aproveite-se estes últimos dias de sol.

    Mas nem sei o que entenda por relativismo, Image
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    Palmira F. Silva 17.09.2010

    relativismo è uma palavra muito cara ao actual papa que as suas ovelhas papagueiam sem entender o significado.

    E não, as religiões não são, nem de perto nem de longe*, filosofia do que quer que seja.

    *Claro que há discussão filosófica sobre a existência de Deus. Mas isso é uma discussão académica como outra qq que nada tem a ver com religião.

    Não só as várias autoridades religiosas discordam em aspectos fundamentais da religião (e daí a profusão de cismas e afins nas maiores confissões religiosas), como o sistema de funcionamento das religiões não obedece a procedimentos de virtude epistémica: não há sistemas de controlo de erros, procura activa de contra-provas, de objecções, de testes cegos, liberdade de argumentação nem acolhimento do debate frontal.

    Pelo contrário, as religiões têm como ponto de partida dogmas,  ideias que não devem sequer ser debatidas, e instituem a blasfémia e opinião herética  que implica que quem as defende tem de ser excomungado. (ou morto). Ou seja, são a antítese da filosofia.
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    António Parente 17.09.2010

    Minha cara estimada Palmira

    Enviei-lhe 2 comentários que não foram publicados. Pode ver se estão por aí no back-office do jugular? Se não estiverem, avise-me por favor, eu repito-os. Se não os quiser publicar, tudo bem. Avise-me também, para eu não perder o meu e o seu precioso tempo.
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    Palmira F. Silva 17.09.2010

    sigh, já só faltava a cristianovitimização...

    para além disso não há pachorra para esta mania católica de considerar insultos tudo e mais umas botas, nomeadamente não poderem insultar quem não partilha as suas crenças.

    procure os comentários que devem estar noutra thread.
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    António Parente 17.09.2010

    Não estão. Não os publicou. Tudo bem, está no seu direito. Não há vitimização nenhuma. O blogue é seu, faz dele o que quiser. Mas, por favor, não seja mal educada. Sei que é difícil evitar mas tente.
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    Palmira F. Silva 17.09.2010

    Meu caro António parente:

    Mau, voltamos ao mesmo? Pensava que já lhe tinham passado essas invenções. Procure os seus comentários que foram todos aprovados. Bolas, se quer criticar alguma coisa critique; não invente perseguições.
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