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Quatro reparos sobre a nota final

O que mais me desconcertou no post do Paulo foi o facto de a nota final assentar no que foi descrito como a «segunda falácia, e a mais importante, do debate em questão: a religião é uma dimensão intrínseca e inextricavelmente humana, indissociável do passado, do presente e do futuro da Humanidade, para o melhor e para o pior» e como tal não deve ser discutida. Ou seja, segundo o Paulo a religião é uma fatalidade que aflige inexoravelmente a humanidade e como tal não deve ser alvo de debates.

 

Esta é análoga à falácia da origem genética da fé. Ou seja, mesmo que descubramos «um gene» da fé ou mesmo que ignoremos que o Paulo nos está a chamar, a todos os ateus, desumanos ou algo que o valha e admitamos que a religião é «uma dimensão intrínseca e inextricavelmente humana», isso não é argumento para nada: nem que a fé é racional, nem que é irracional muito menos que é boa ou má ou é uma força para o bem resultam desta assunção. A admitir-se essa premissa como verdadeira isso significaria apenas que é uma característica humana ter fé e seguir uma religião. Também é uma característica humana ter enfartes, mas isso não é bom, e é uma característica genética humana ter necessidade de comidinha, mas isso não é mau. E podemos e devemos discutir essas caracterísicas humanas e, em relação à primeira, que é má, debater e investigar como podemos minorar ou debelar os seus efeitos.

 

Ou seja, a falácia consiste em dizer que algo é racional ou irracional, correcto ou incorrecto, bom ou mau, porque «está nos genes» ou é «uma dimensão intrínseca e inextricavelmente humana». O que está em causa na questão em apreço é saber se a religião é ou não uma força para o bem e não saber se temos uma predisposição para a religião. Já agora, mesmo que tenhamos predisposição para tal e a fé não tiver justificação, a fé continua, qual ilusão óptica, a ser injustificável e como tal irracional. Ou seja e mais uma vez, afirmar que não devemos discutir algo por causa da sua suposta inextricabilidade do que é ser humano é que é uma falácia não a discussão desse algo inextricável.

 

Como nota final, uma vez que o Paulo não viu o debate não sabe que foi exactamente sobre o facto de «as religiões de terem "mau uso", de serem utilizadas ao serviço das rupturas, da violência, da intolerância e do ódio» que assentou toda a retórica de Tony Blair. Mas, infelizmente, o senhor que considera que só o bem é a «verdadeira essência da fé» e que o mal em nome da religião é uma distorção induzida pelo secularismo decadente e hedonista, afirma a alto e bom som que a cura da maleita é mais do mesmo, mais religião e mais fé, com a religião e a fé a ditarem os destinos de todos, crentes e não crentes. Mas acho curioso que fales em visões a preto e branco num post que fala de um senhor que acha que a ausência de religião pode ser perigosa e que por isso vê o mundo dividido em bons, os crentes, e maus, os outros.  E, claro, para ele os bons nunca se enganam.

 

Sequência dos posts

1- O pecado original

2- Quatro reparos e muitos desconcertos - sobre falácias

3- Um reparo e muitos desconcertos

4- So far, o presente é o último sobre o tema :)

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