o país-cavácuo
Pouco mais há a acrescentar. Portugal cumpriu, uma vez mais, a tradição "monárquica" que transforma a eleição presidencial numa estadia de uma década. O país que re-elegeu quem durante mais tempo ocupou o cargo de Primeiro-Ministro, em 3 governos sucessivos, dois deles de maioria absoluta. O país deprimido, esquizofrénico, de dupla personalidade, que premeia quem personifica o "sistema" mas que diz não ser político profissional e afirma estar acima dos que o são; que elege quem diz uma coisa e o seu contrário, que promulga diplomas mas diz nada ter a ver com eles. O país das meias-medidas, do pé-fora e pé-dentro simultâneos, do copo meio cheio e meio vazio, que reclama para si os sucessos mas que sacode a água e descarta para cima de terceiros os fracassos, as falhas e os vícios. O país que despreza os intelectuais, os cientistas e o mérito mas que se curva perante o título académico e o "professor". O país de memória curta. O país que desconfia do colectivo, da cidadania e do público e que apenas confia em si próprio, no que é individual e, por consequência, num "grande homem", numa tentação cesarista de raízes profundas. O país de ideias esgotadas e inseguro. Cumpriu-se o país cavácuo.
adenda: prémio "melhor tirada" - o candidato Coelho, ontem, nas suas primeiras declarações após o encerramento das urnas: acerca das confusões nas mesas de voto com o cartão de cidadão, disse que foi prejudicado porque o seu eleitorado é jovem e possui tal cartão, enquanto que o eleitorado de Cavaco Silva "não possui o cartão, é conservador e tem B.I. vitalício".