Que fazer à Caixa?
Pedro Lains não é favorável à privatização da Caixa:
"Todas as contas feitas, as coisas não têm corrido mal. A Caixa é uma boa fonte de receitas para o Estado e uma boa fonte de política financeira, sendo ao mesmo tempo um banco como os outros. Privatizá-la, para quê? Só se for para pagar uma parte da dívida nacional. Mas isso seria bom?
"Objectivamente, não, pois seria uma parte diminuta da dívida e, mais importante, o que interessa não é tanto pagar a dívida, mas sim garantir que ela não volte a crescer como até aqui, o que deve ser feito obrigando os mercados a dar os sinais correctos, resultado que não seria seguramente ajudado por um resgate artificial. A história acaba sempre por absolver. Mas quem privatizar a Caixa vai ter algum trabalho em passar pelo crivo. Sobretudo agora, que a venderia com um grande desconto."
Por mim, admito que tenho dúvidas.
Concebo que a Caixa permaneça gerida pelo Estado contanto que possa ser um instrumento útil ao serviço de uma estratégia de desenvolvimento. Sucede, porém, que essa estratégia não existe.
Sublinho: não é que não seja conhecida: não existe mesmo. Sustento a minha convicção nas declarações públicas de administradores da instituição, segundo os quais se trata de um banco como qualquer outro. Mas, se é um banco como qualquer outro, que sentido fará permanecer sob controlo público?
Acontece que, na verdade, não é um banco como os outros. Desempenha o papel de muleta dos bancos privados num sentido por vezes nocivo ao interesse público e faz uns jeitos a grupos industriais poderosos, possivelmente cedendo a pressões governamentais. Estou a pensar, por exemplo, nas manobras que envolveram a compra de ações da CIMPOR a Manuel Fino.
De modo que a minha inclinação é a seguinte: ou se define uma orientação clara de promoção do interesse público de que a propriedade da Caixa seria um instrumento, ou privatize-se a dita - mas não agora, é claro, porque seria forçosamente mal vendida.
Recomendo um raciocínio similar para se decidir se faz ou não sentido privatizar-se a RTP, visto não podermos continuar a pagar por um serviço público que ou não existe ou é intoleravelmente exíguo.