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Em defesa da aposta nas energias renováveis e eficiência energética 3

Maradona é com certeza o maior no estádio e na blogosfera e agradeço-lhe a esperança no meu percurso académico, atribuindo-me títulos que não tenho.

 

Tendo em conta as minhas capacidades futebloguisticas, pode tratar-me por Apanha Bolas. Eu trato-o por Maradona, se não se importar apesar das suas tiradas energéticas me recordarem sobretudo a técnica do grande Isaías, herói do 1-1 contra o Leverkusen a que assisti na Luz, antes do 4-4 na Alemanha ter suavizado os gastos com pensionistas ao Estado Português.

 

 

Antes de mais queria pedir-lhe desculpa por ser assessor de um governo e revelar ideias próximas das desse governo na área energética, concordo que é uma falha indesculpável, vou colocar o cilício e de futuro tentarei assessorar algum defensor do nuclear ou das centrais a fuelóleo na cochichina.

 

E voltando às energias...

 

Pode ver aqui que as minhas posições em 2009 eram as mesmas que agora defendo e escrevo aqui: que "O apoio às energias renováveis deverá ser gerido criteriosamente, de forma a evitar a criação de rendas desnecessárias em tecnologias verdes já competitivas, que venham a onerar excessivamente o contribuinte ou o consumidor." 

 

Repito que a atitude de quem restringe o debate à discussão eur/MW é tendenciosa porque essa é uma discussão miópica ao não incorporar todas as variáveis relevantes para a tomada de decisão. O custo das renováveis é transparente e está na tarifa, enquanto os vários beneficios estão dispersos (não é uma nebulosa e podem ser calculados, apresentei-lhe um exemplo), enquanto com os fósseis sucede exactamente o contrário.

 

A minha crítica não é ao PSD, mas à corrente do PSD que faz campanhas de desinformação sistemáticas sobre o impacto global da aposta nas energias renováveis, sempre com o nuclear (recentemente abandonado a contragosto devido a Fukushima) na manga. Aqui pode ver que admiro bastante outras figuras do PSD a quem o País deve muito pela sua coragem e perseverança no desempenho de altas funções de Estado.

 

Vou tentar esclarecer duas questões quase diárias sobre política energética em Portugal:

 

1) Que sentido faz apostar nas renováveis se são mais caras do que as energias convencionais?

  • Ainda hoje, passados 17 anos desde a criação dos CAE – Contratos de Aquisição de Energia pelo ex-Ministro Mira Amaral, o sobrecusto dos CAE e dos CMEC –  Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (que decorrem dos CAE), representam uma grande fatia dos CIEG – Custos de Política Energética, Ambiental ou de Interesse Económico Geral (30% em 2010). O sobrecustos das renováveis é superior (44% em 2010), mas os impactes em termos de geração de emprego, criação de riqueza, redução de importações, fomento de exportações, redução de emissões, apoio à inovação e desenvolvimento tecnológico são completamente favoráveis às renováveis. As fontes de energia renovável (FER) eliminam a exposição à volatilidade de preços das matérias primas necessárias às centrais térmicas e importa ainda referir que os CAE remuneram as grandes centrais durante mais de 25 anos, enquanto o sobrecusto das FER remunera as energias renováveis durante apenas 15. Fonte: ERSE 2011, http://www.erse.pt/pt/electricidade/tarifaseprecos/tarifareguladas2011/Documents/Tarifas%202011.pdf
  • É portanto da mais elementar justiça quantificar todos os custos e benefícios relevantes para se avaliar a bondade e o impacto económico global da aposta nas energias renováveis em Portugal. É por isso que o simples debate €/MW é miópico, porque não incorpora toda a informação relevante para a tomada de decisão.
  • O custo da energia produzida nos novos parques eólicos em Portugal varia entre os 65€/MW e os 72€/MW, dos valores mais reduzidos na Europa, e que são já hoje competitivos ou quase competitivos com o custo da energia produzida nas centrais térmicas convencionais, aos actuais preços do gás natural e do carvão.  Acresce que as FER apenas beneficiam de tarifa garantida durante os primeiros 15 anos de funcionamento, pelo que nos restantes 10 anos da sua vida útil de 25, serão remuneradas aos preços do mercado.
  • A perpetuação da aposta em fontes de energia convencionais é insustentável:
    • Económica – o custo dos combustíveis fósseis aumentará à medida que uma oferta cada vez mais escassa é pressionada pela procura crescente das economias emergentes. A especulação e a instabilidade política nos países produtores também contribuem para frequentes e profundas flutuações de preço. Fonte: http://www.guardian.co.uk/business/2011/mar/18/oil-price-un-resolution-libya
    • Política – muitos dos oil & gas rich countries são regimes politicamente instáveis ou que sofrem de um acentuado défice democrático. A resolução destas questões é extremamente complexa no horizonte temporal relevante. Fonte: http://www.chathamhouse.org.uk/files/13752_bp0309litvin.pdf
    • Ambiental – cumprir os previsíveis acordos internacionais de redução de emissões implica a completa descarbonização do sector electroprodutor europeu em 2050.Fonte: http://www.roadmap2050.eu/
    • E materialmente – porque são recursos escassos e não renováveis. Discute-se bastante se já atingimos ou não o Peak Oil, mas esse é um dado menos relevante do que Peak Oil Per Capita que aconteceu algures entre 1978 e 1979. Fonte: ASPO http://www.peakoil.net/
  • A aposta nas energias renováveis tem sido centrada nas áreas em que Portugal tem vantagens evidentes como a energia hídrica e eólica, mas inclui também a aposta em tecnologias prometedoras à escala global e onde temos algumas oportunidades como o solar, a biomassa, a geotermia e a energia das ondas.
  • A Estratégia Nacional de Energia ENE2020 acautela a sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade económica do sector. O preço da energia eléctrica em Portugal está abaixo da média europeia e dos preços praticados em Espanha quer para os consumidores domésticos quer para os industriais (ver próximo ponto).
  • As apostas nas energias renováveis, na eficiência energética, nos serviços de águas e resíduos, são apostas voltadas para o futuro porque as oportunidades de negócio nestes sectores registam um crescimento exponencial (ver aqui um dos estudos de referência sobre tecnologia ambiental). A evolução tecnológica e a massificação das energias renováveis graças à aposta de países como Portugal, Espanha, Alemanha e Dinamarca permitem que actualmente os custos de produção de equipamentos relacionados com as energias renováveis estejam a decrescer rapidamente enquanto a sua eficiência aumenta. A ideia chave é de que para se retirarem dividendos amanhã é preciso estar no mercado hoje e para Portugal esta aposta faz ainda mais sentido porque as energias renováveis utilizam os únicos recursos energéticos que o país possui.
  • Quando diz que "Acresce que há, nesta posição de cautela, também uma "política de futuro": a de que, para países mais pobres e mais atrasados, existe vantagem em não participar de forma substancial nas tecnologias de ponta, e só chegar a elas quando o seu estado de maturação já não representa um encargo que desvie recursos de coisas mais básicas, as quais, estando ausentes, até podem no limite estancar os visionários ímpetos que os governos tentam artificialmente impôr à sociedades que são os seus brinquedos." acrescento que as energias renováveis e a eficiência energética não são rocket science e estão ao alcance de várias empresas nacionais com provas dadas internacionalmente. Sem risco não há rentabilidade e eu advogo que no campo da energia devemos ser technology makers em vez de ser apenas technology takers.
  • Em Espanha a aposta no solar foi megalómana em termos de escala e foi feita com recurso a FITs feed-in-tariffs brutais.

2) Porque é que a energia eléctrica em Portugal é mais cara do que em Espanha e está acima da média da União Europeia?

  • Pura e simplesmente isso é falso apesar de repetido vezes sem conta na comunicação social. A energia eléctrica não é mais cara em Portugal. O custo da energia eléctrica em Portugal está abaixo da média da UE e dos valores praticados em Espanha (ver tabelas abaixo).
  • A energia com origem em combustíveis fósseis não paga a esmagadora maioria das externalidades que a sua utilização produz (ver PNALE), mas a partir de 2012 terá de pagar todas as licenças relativas à emissão de CO2.
  • Em 2010 Portugal tem um modelo energético mais sustentável económica e ambientalmente do que se tivesse optado por um modelo alternativo assente nos combustíveis fósseis. Estão criadas as condições para que em 2020 esta tendência seja reforçada com a saída de parte da produção eólicas da tarifa e entrada no mercado.
mais alguns dados  

2009 average tariff (€/MWh)

EU 27 Average

Portugal

Wind on-shore

102,88

94,50

Small hydro

93,12

85,90

Biomass

111,46

105,30

Solar PV

282,63

370,00

Source: EREF – European Renewable Energies Federation, Prices for Renewable Energies in Europe 2009

URL: http://www.eref-europe.org/dls/pdf/2009/eref_price_report_09.pdf

Mais informação em http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_OFFPUB/KS-QA-10-046/EN/KS-QA-10-046-EN.PDF
Por agora é tudo. Com amizade,
Apanha Bolas

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