Falta de ética
O reverendo Fred Nile, lider do Partido Democrata Cristão da Nova Gales do Sul, tentou chantagear o governo regional indicando que chumbaria a legislação que este pretende passar a menos que se acabasse de vez com as aulas de ética que tanto desagradam aos líderes religiosos deste estado australiano. E digo tentou porque os protestos foram tantos que Barry O´Farrell, o PM do estado, informou ontem que não tenciona ceder à chantagem do reverendo.
Há cerca de cem mil crianças nas escolas primárias do Estado cujos pais recusam as aulas de «educação religiosa especial» (SRE). As aulas de ética tiveram início o ano passado em 10 escolas e este ano abrangem 128 escolas e cerca de 2700 alunos. Mas para o reverendo Fred Nile, as opções e vontade dos pais são irrelevantes, o que interessa é que as aulas de ética são uma ameaça à doutrinação obrigatória na sua fé das crianças.
No dia 1 de Agosto, uma criança de 11 anos explicou ao reverendo porque razão deve manter a sua política, e a sua religião, fora das salas de aulas. Em particular deu-lhe uma lição de ética que, suspeito, passará completamente ao lado do piedoso reverendo. Charlie Fine escreveu no seu op-ed: «By all means, Mr Nile, you go out and be as Christian as you want; I respect that entirely. But that does not give you and your supporters the right to attempt to shape a future generation of adults in your mould - that is a religious conservative.»
E passará completamente ao lado porque, ao mesmo tempo que exigem estridentemente respeito pelas suas crenças, respeito pelas opções alheias é algo que nem sequer passa pela cabeça dos cristãos mais fanáticos, tanto na Austrália como por cá. E, tanto por lá como por cá, consideram que é perfeitamente ético fazer reféns políticos, 100 mil crianças ou quem for preciso, para impingir a sua religião a todos.