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Democracia Pingo Doce

Este é um excerto da resposta de Pedro Soares dos Santos a Daniel Oliveira no Expresso de ontem (que pode ser lida na íntegra aqui):

Se bem percebo a lógica do autor da carta, só os empregadores - isto é, os que dão o exemplo em "matéria de criação de emprego e melhoria das perspectivas e qualidade de vida" dos portugueses - podem criticar os empregadores, não é? O resto deve ficar calado, dado que não merece "respeito" - sob pena de acabar tudo em tribunal. 

Como alguém lembrou no twitter, talvez isto devesse acabar como acabou o caso Ensitel: com a empresa enxovalhada no espaço público. Decididamente, ninguém na Jerónimo Martins leu este livro

11 comentários

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    Hugo Mendes 21.08.2011

    "Critique com propriedade e com base em obra feita", esqueceu-se de completar a frase. 


    Não sei bem o que entende o autor da carta por "crítica com propriedade" (sobre a "obra feita" já estamos conversados). Mas pelo espírito do que escreve, não me parece a perspectiva mais aberta: toda a carta questiona a legitimidade de Daniel Oliveira para escrever sobre o assunto (por exemplo, critica-se a sua legitimidade para "falar em nome dos 'pobres'". mas o que é isto? é preciso ter currículo?). 


    Claro que a Jerónimo Marttins tem "o direito democrático de recorrer aos tribunais para dirimir uma questão". Mas admitirá que fazê-lo é, em si, e tratando-se de um grande grupo, um acto intimidatório. Até porque ainda estou para perceber qual foi a calúnia.
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    henrique pereira dos santos 21.08.2011

    Sugiro que link o texto original do Daniel Oliveira. Por exemplo, quando se diz que o salário médio do pingo doce é 540 euros e se atribui a esse facto as dificuldades dos seus funcionários, e o ordenado médio for outro, bem mais elevado, isso é uma calúnia ou não? Quando isso é reforçado com afirmações do tipo, com uma mão exploram-se os pobres e com a outra se faz caridade, dá-se um consolo, um ralhete e um ensinamento, a propósito das iniciativas concretas de apoio aos seus funcionários endividados, só não se está a caluniar se a situação estiver bem retratada no que diz Daniel Oliveira. Tem a certeza de que está? "Como escravos, há que mantê-los vivos" é uma afirmação que aceitaria de ânimo leve se fosse empregador? Ou considerá-la-ia caluniadora porque não há sombra de escravatura no pingo doce e a maioria dos seus funcionários não estão sobreendividados?
    Daniel Oliveira pode dizer o que quiser, essa é a essência da democracia. Mas não há nada de estranho em responsabilizá-lo pelo que diz através dos mecanismos normais nestas situações: o recurso aos tribunais.
    henrique pereira dos santos
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    Hugo Mendes 21.08.2011

    Estou cansado de ler textos como o de Daniel Oliveira em jornais ingleses, americanos, franceses, com acusações do mesmo teor, e por vezes mais graves e retoricamente mais excessivas. Não me lembro dos seus autores terem sido processados - talvez por as empresas perceberem os danos que este tipo de atitudes lhes causa; talvez por terem uma concepção diferente da crítica no espaço público; talvez por não terem tanto poder como a Jerónimo Martins tem em Portugal; talvez porque os países (e os mercados) tenham outra escala. Não sei; mas Portugal este tipo de críticas são tidas como inaceitáveis. Acho que isso diz mais sobre Portugal e sobre a Jerónimo Martins do que sobre o conteúdo do texto do Daniel Oliveira (já agora, ninguém mandou a Jerónimo Martins gabar-se dos apoios dados aos seus trabalhadores em situação difícil; parece-me marketing pouco inteligente, mas essa é outra discussão). 

    De qualquer forma, o meu post era apenas sobre um ponto muito particular: acho inaceitável, do ponto de vista de  uma democracia madura, que alguém não possa criticar as práticas de uma empresa sem ter "obra feita". É a mesma coisa que um político dizer que ninguém o pode criticar porque não tem "obra feita" na política, etc. É um argumento terrivelmente chantagista.


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    henrique pereira dos santos 21.08.2011

    Não se lembrar de situações destas noutros países quer dizer que fez um esforço para as encontrar ou quer dizer que, tal como o Daniel Oliveira, acha que falar de ouvido é suficiente?
    Pessoalmente, em situações deste tipo, penso que nunca processaria ninguém: vozes de burro não chegam ao Céu.
    Só que o meu comentário não é sobre isso, é sobre a sua ideia de que recorrer aos mecanismos do estado de direito para defender os seus pontos de vista é anti-democrático.
    A referência à obra feita é perfeitamente compreensível no contexto completo da resposta sobretudo tendo em atenção que a empresa em causa garante mais 50 000 empregos e o Daniel Oliveira provavelmente não.
    Não confundamos isso com a actividade política, que é uma actividade dos cidadãos e para os cidadãos, ao contrário da gestão de empresas e da criação de emprego que é uma actividade para os clientes.
    Que por sinal somos nós. E no caso concreto gostaria de saber se o Daniel Oliveira acharia que se defende mais quem tem menos dinheiro baixando os preços de produtos essenciais, implicando baixos salários para os trabalhadores dos supermercados, ou aumentando os trabalhadores do supermercado e os preços finais.
    A resposta previsível seria que seria possível baixar os lucros e aumentar os trabalhadores sem aumentar os preços.
    Parece que nos regimes de que gosta o Daniel Oliveira a coisa funciona assim mas, estranhamente, as pessoas preferem, sempre que podem, mudar para este injusto capitalismo liberal.
    Provavelmente são masoquistas e chateiam-se com o paraíso.
    henrique pereira dos santos
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    Hugo Mendes 21.08.2011

    1. Não sei se Daniel Oliveira falou de ouvido.
    2. "Só que o meu comentário não é sobre isso, é sobre a sua ideia de que recorrer aos mecanismos do estado de direito para defender os seus pontos de vista é anti-democrático." 
    Eu não disse que recorrer aos mecanismos do Estado de direito era anti-democrático. Disse que a carta expressa uma concepção particular de democracia que (a) usa um argumento que considero chantagista (e nesse sentido, discursivo, pobre do ponto de vista democrático, porque levaria, a ser seguido, que a crítica fosse suspensa em 99% das situações [no limite, significa que os sindicatos devem estar caladinhos, porque não criam emprego nem têm a "obra feita" que os empregadores admiram]) e (b), na prática, ao partir imediatamente para a litigância sem se mostrar interessado em rebater primeiro as críticas de Daniel Oliveira no espaço público, visa intimidar o autor da crítica (e futuras situações semelhantes). O espaço público, onde Daniel Oliveira se expressa, é utilizado por Pedro Soares dos Santos para desferir um ataque ah hominem sem responder a praticamente nada do que está em causa. Nesse sentido, é uma desvalorização da democracia, que é feita de debate público. Desvalorizar uma certa concepção de democracia e defender soluções anti-democráticas são coisas muito diferentes.
    3. Sobre o que o Daniel Oliveira defende, tem de lhe perguntar (e o seu maniqueísmo é desnecessário). Aliás, Pedro Soares dos Santos podia ter-lhe perguntado isso mesmo no jornal. 
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    henrique pereira dos santos 21.08.2011

    1) O argumento tem um contexto. Parece-me que a questão central é o facto de Daniel Oliveira partir de pressuposto falso (o valor do ordenado médio na jerónimo martins) para chegar à conclusão "como os escravos, é preciso mantê-los vivos". E é nesse contexto que Pedro Soares dos Santos invoca o conforto de quem fala sem nunca ter tido a responsabilidade sobre terceiros que implica a criação de empregos;
    2) Sendo a argumentação do nível que referi acima qual é a discussão possível no espaço público? Dizer quanto é o ordenado médio da empresa, que é um dado público e facimente acessível com um click?;
    3) Não se trata de um ataque ad hominem, trata-se de uma defesa do hominem ao ataque ad hominem feito por DO;
    4) Intimidar o autor porque uma empresa lhe chama mentiroso? Que má opinião tem de quem emite opiniões no espaço público. Acha mesmo que isso intimida alguém que está convencido de que está a dizer a verdade?;
    5) Democracia não é tratar como flores de estufa as pessoas que emitem opiniões. Democracia é dar os mesmos meios a todas as pessoas para defenderem legalmente o que acham justo. Ao Daniel Oliveira e aos donos da Jerónimo Martins;
    6) Os únicos que devem ter os seus direitos limitados nessa matéria são as pessoas em exercício (sempre temporário) do poder, não pela lei, mas pelas suas próprias convicções sobre a necessidade de escrutínio público e agressivo do exercício do poder.
    henrique pereira dos santos
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    Renato 22.08.2011

    Henrique, eu acho que devia avisar a administração da Jerónimo Martins de que também há pelo menos um sindicato a protestar contra os baixos salários no Pingo Doce, para além de outros alegados atropelos às leis laborais, usando expressões ofensivas. E sei de outras pessoas, em blogues, que dizem coisas semelhantes. Tem que se meter esta gente na ordem e obrigá-los em tribunal a provar o que dizem. 
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    henrique pereira dos santos 22.08.2011

    Renato, não só não tenho nenhum canal de comunicação com a Jerónimo Martins, como devem saber disso porque a carta de Pedro Soares dos Santos o refere explicitamente. E também diz porque entente a Jerónimo Martins que DO passa dos limites. O que acho curioso é considerar-se que os tribunais não servem para dirimir a questão de saber se DO passou ou não dos limites. Dizer que alguém não pode recorrer aos tribunais porque neles tem uma relação assimétrica com terceiros é que é uma suspeição sobre os tribunais típica de quem não confia no Estado de direito e na capacidade dos tribunais defenderem os direitos dos mais fracos.
    henrique pereira dos santos
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    Renato 22.08.2011

    Você impressiona-me, Henrique. 
    Já agora, você parece-me suficientemente inteligente para não cair na ingenuidade de pensar que a relação entre a Jerónimo Martins e qualquer comentador como o DO, ou um trabalhador da Pingo Doce não é assimétrica. Ainda não o percebi.
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    henrique pereira dos santos 23.08.2011

    Claro que a relação entre uma empresa e um indivíduo é assimétrica. Claro que a relação entre um rico e um pobre é assimétrica. Claro que a relação entre um patrão e um empregado é assimétrica. Claro que a relação entre quem tem acesso a meios de comunicação e quem não tem é assimétrica. Claro que uma discussão entre quem não tem responsabilidades e quem tem responsabilidades é assimétrica. Tudo isso é verdade. O que não vejo é qualquer problema no facto do mais forte recorrer aos tribunais, provavelmente a instância onde essas assimetrias mais se esbatem, para dirimir uma questão. Nos países não democráticos e não respeitadores do estado de direito garanto que não seria essa a escolha do mais poderoso. O recurso aos tribunais (e volto a frisar que pessoalmente acho que teria sido mais inteligente a jerónimo martins se ter limitado a uma resposta com dados objectivos sobre a questão, mesmo reconhecendo que o texto do DO é demasiado desonesto para que seja possível discuti-lo de boa fé) por parte dos mais poderosos é um triunfo da democracia, não é anti-democrático.
    henrique pereira dos santos
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