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"eu (...) ex-aluno do Colégio Militar e homossexual"

De vez em quando há comentários que merecem sair da caixa para a luz do dia. Ontem à noite li um no meu último post que me fez pedir autorização ao autor para o transformar em post e, perante o assentimento do Pedro Lérias (o autor), aqui  deixo o texto que nos faz reflectir (com o aviso que terei tolerância zero para homofobia).

 

Sugiro a leitura de uma entrevista que eu, enquanto ex-aluno do Colégio Militar e homossexual, dei para um blog de um outro ex-aluno do Colégio Militar como complemento que poderá ajudar a reflectir sobre este assunto.

"Isto Não Define Quem Sou" (Parte I)


"Isto Não Define Quem Sou" (Parte II)



Esta questão é mais complexa do que se poderá achar à primeira.

De salientar alguns pontos. É verdade que no meu tempo - não sei como é agora - havia uma profunda repressão da homossexualidade, repressão que começava logo no 1º ano do CM (5ª ano de escolaridade) com muita conversa sobre a homossexualidade ser um pecado mortal e a pior coisa que alguém podia ser no CM. A acusação de homossexualidade podia resultar em agressões físicas e/ou verbais e eventual expulsão de quem fosse declarado homossexual, incluindo crianças de 11 anos, os casos mais novos a que tive a infelicidade de assistir (crianças novas demais que tinham cometido o pecado de se masturbarem em conjunto, muitos deles o mais certo heterossexuais a fazerem o seu desenvolvimento normal). Negar esta realidade é negar a verdade, eufemismos sobre separar o trigo do joio são figuras de estilo. O trigo é separado do joio com violência, não existe outra forma existe. Isto era como era nos anos 80, não sei como será agora.

Esta repressão tinha - e terá sempre - profundas consequências para a saúde mental e física de um jovem homossexual, como eu era. Leio acima pessoas que se dizem católicas mas desconhecem o significado da palavra amor. Perseguir uma criança em desenvolvimento por ser quem é, é trágico. É a banalidade do mal.

Como é que algumas pessoas conseguem justificar no seu cérebro a destruição de o bem estar de alguém para avançar as suas causas já me é de difícil compreensão, mas fazê-lo também quando falamos de jovens crianças e adolescentes é doentio.

Eu percebi que era homossexual logo aos 11/12 anos, com o início da puberdade. Não havia muito que pudesse fazer sobre o assunto, apesar de ter tentado. Eu adorava o CM e saber o que me aconteceria se partilhasse algo tão íntimo mas tão fundamental como aquilo que sentia com alguém foi de uma crueldade extrema. Vi-me obrigado a lutar contra mim próprio e a sofrer bastante com isso.

Nenhuma criança deve passar por isso. Mas se pessoas como este Tenente Coronel mostram que a instituição militar não deve ter alçada sobre o desenvolvimento de crianças, a verdade é que não tem que ser assim. Trata-se de obrigar a instituição militar a crescer e mudar.

Não tenho opinião definitiva sobre o futuro do CM. É uma instituição que dá um grande contributo à sociedade, mas não necessariamente pelas razões que normalmente são apontadas (quero lá saber se ex-presidentes ou supostos descendentes monárquicos por lá passaram). Se esse contributo se justifica, sinceramente não sei. Sei que não se deve viver só para modas. Mas também sei que não devemos viver agarrados ao passado.

Não tenho opinião definitiva. Choca-me apenas a ignorância de quem quer instrumentalizar o CM para as suas causas, sejam a barbárie em nome do amor, seja algum ódio à instituição militar (que alguns têm mas não me parece ser o caso aqui). É uma questão complexa.

Sei também que respostas com a soberbidade deste senhor não ajudam e que com defesas assim o CM não sobreviverá. As instituições militares não são um mundo à parte e reflectem o melhor e o pior da sociedade civil. Corrupção financeira e moral abundam no mundo militar, apesar do que estes TCs nos querem fazer querer.

Enfim. O CM foi a minha casa durante 8 anos e para o bem e para o mal marcou a minha vida. Talvez não seja a pessoa mais certa para decidir o seu futuro. Fica o meu testemunho.

Cumprimentos,

Pedro Lérias

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