Embora suspender a racionalidade por seis meses
Decorrida uma breve semana, já não se encontra por aí uma alminha capaz de defender a “qualidade” do relatório do FMI.
Em contrapartida, os que na altura acharam o trabalho “muito bom” (este grupo incluiu sem surpresa destacados jornalistas económicos) preferem agora uma outra linha de argumentação mais arrevesada.
Sustentam eles que, embora a operação seja criticável por pífia na forma e medíocre no conteúdo, a verdade é que a reforma que o tandem governo-FMI deseja é tão necessária como inevitável.
Como é que sabem?
Recorde-se que o relatório não se limita a propor medidas. Com a empáfia expectável dessas bandas, ele anuncia ao mundo que vai apresentar uma estratégia “inteligente” assente numa análise criteriosa da realidade do país em comparação com o que se passa “lá fora”.
Por outras palavras, pretendeu-se diagnosticar disfunções e anomalias efectivas do estado português como passo indispensável para identificar cortes racionais na despesa.
Mas, então, pergunto eu: se o relatório falhou miseravelmente nesse propósito – ou seja, se ficou por demonstrar a alegada ineficiência comparativa do estado português na saúde, na educação e na segurança social – como pode fazer-se de conta que ele necessita do tipo de reforma que o governo teima em levar por diante? Onde está a propagada “inteligência” de tudo isso?
Se a análise está errada, as conclusões não fazem sentido. A racionalidade é uma chatice.
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