A propósito da morte de Mandela
Mas o mais interessante passava-se lá, na África do Sul. O enviado do DN Guilherme de Melo conta como foi: 200 mil pessoas a assistir à reconstituição da chegada de uma caravela e do desembarque dos portugueses. E cerimónia oficial com pompa e circunstância, com o presidente Pieter Botha a discursar em africaans, hinos, cânticos, danças folclóricas, ginástica, espetáculo aéreo, largada de 500 pombos brancos. E um grande orgulho e empenho da comunidade portuguesa, como seria de esperar. Entre os convidados portugueses, o bispo do Funchal e o presidente da câmara de Lisboa Krus Abecassis, assim como o comandante Serra Brandão, que presidia à então Comissão do V Centenário. Há um vídeo amador no youtube, aqui. Bom. O que foi notícia, porém, não foi nada disto. Foi um pormenor, enfim, significativo e embaraçante (para Portugal, evidentemente): Mossel Bay era uma praia whites only. Um recente incidente envolvendo um político local levou a que negros e mestiços boicotassem a iniciativa. Portanto, toca de mascarrar uns quantos brancos e pô-los a fazer de "indígenas", na alegada reconstituição (v. recorte). Lindo.
Eu estava no 3º ano de curso. Sim, um ano depois das confusões em Letras. Numa aula de História de Portugal, o nosso velho mestre António Borges Coelho fazia um "tsc tsc" e dizia com ar simultaneamente divertido e amargurado que o envolvimento de Portugal naquela "fantochada" era uma vergonha nacional. E que as comemorações dos Descobrimentos arrancavam com o pé esquerdo. Na altura não percebi. Como em tantas outras coisas, só depois, só depois.