A propósito da contratação de médicos cubanos
Pedro Pita Barros faz aqui uma análise que me parece importante e independente da situação. Merece-me, contudo, uma observação que não é de menor importância esta sua declaração "Como se vê, na maior parte das situações, os médicos cubanos virão receber menos do que os médicos portugueses com especialidade, e só mesmo os médicos em início de carreira terão um salário inferior (este gráfico foi construído com a informação do i para os médicos cubanos e da tabela no site do SIM adicionando os encargos sociais)." (refere-se ao gráfico que apresenta e os sublinhados são meus).
Em rigor, e porque os médicos cubanos contratados (e explorados, já agora) não são especialistas, a única comparação legítima é com os não especialistas portugueses. No entretanto uma pergunta e um reparo: o que são "clínicos gerais não especialistas"? Se são os médicos internos de Medicina Geral e Familiar não se chamam "clínicos gerais", se são clínicos gerais sem especialidade (um pleonasmo) não podem estar em início de carreira.
Só mais um apontamento, falta, nas contas apresentadas no gráfico, o custo do alojamento e do pagamento (legítimo) das viagens de férias anuais a Cuba aos médicos cubanos.
Adenda: Sobre o mesmo assunto acabei de ler no Expresso, escrito pela jornalista Vera Lúcia Arreigoso - uma jornalista "de Saúde" - que «O protocolo com Cuba existe desde 2009 e "neste momento Portugal tem 18 médicos cubanos de MGF no SNS, num universo de 7651 médicos portugueses" com a mesma especialidade. O número vai agora ser reforçado com a contratação de 51 especialistas, garantindo médico de família a mais 47500 utentes.» (os sublinhados são outra vez meus).
Ponto 1, o Ministério da Saúde mente quando refere a existência de "18 médicos cubanos de MGF" - os médicos cubanos não são especialistas, por isso não são médicos de Medicina Geral e Familiar.
Ponto 2, Vera Lúcia Arreigoso não só não dá nota da aldrabice como a reforça ao escrever que existem "7651 médicos portugueses com a mesma especialidade" e que o número vai ser reforçado "com a contratação de 51 especialistas" - os médicos cubanos não são especialistas.
Ponto 3, não há um jornalista que levante a questão das comparações remuneratórias estarem a ser feitas de maneira enviesada, caramba!?
Estas coisas encanitam-me os nervos.