Entre Cila e Caribdis ou Que possas viver em tempos interessantes
O PS está frente a um grande desafio. Por isso é distribuir por quem queira cópias da Odisseia. O resultado das eleições colocam o Partido Socialista entre Cila e Caribdis. Com o resultado alcançado, a coligação vai preparar-se para dar uma de Cavaco 85/87 e engrenar no discurso do PS radicalizado e de braço dado com a extrema-esquerda triunfante. A esquerda do PS por seu turno e sem surpresas (aliás, já começou) vai tentar colar o PS à coligação e à austeridade. Chatices de não ter vencido as eleições embora tenha melhorado o resultado face a 2011 e seja o partido mais votado entre a maioria de esquerda que agora existe no Parlamento. Enfim, injustiças da vida, sabedoria do povo.
Como pode o Partido Socialista atravessar o seu estreito de Messina? Do mesmo modo que Ulisses: lutando. Lutando para se manter afastado de um perigo e de outro. Não obstante os resultados de ontem, o PS já fez o mais importante: tem trabalho, tem um programa, tem muito boa gente eleita e disposta a trabalhar. Tem uma alternativa para Portugal. Mesmo se esta alternativa não obteve a maioria dos votos dos portugueses, foi sufragada por muitos: obteve 32,38% dos votos, o melhor resultado a seguir à coligação, com uma diferença de 6%. Esses portugueses, onde me incluo, esperam que o PS, como ontem afirmou António Costa, cumpra o seu programa, nem viabilizando a austeridade da direita, nem coligações negativas à esquerda. Entre Cila e Caribdis há caminho: desde logo todas as soluções de esquerda que não impliquem afrontas ao programa do PS mas permitam compromissos com outros partidos. A responsabilidade que este interessante Parlamento de Outubro de 2015 cria sobre todos os partidos representados é enorme. Sobretudo para a Esquerda.
Vai ser duro e muito arriscado. Vai ser preciso determinação, diplomacia e competência. Nunca (pelo menos no meu tempo de vida) foi tão interessante ser socialista em Portugal.