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o homem da natalidade de passos e a sua teoria da 'guerra contra a família' (isto promete)

à escolha de passos para presidir à tal comissão da natalidade que em três meses vai apresentar propostas, joaquim azevedo, não se conhece qualquer trabalho na área em questão, na qual portugal tem especialistas de renome como maria joão valente rosa.

 

além de director do pólo do porto da universidade católica e especialista em educação, este ex secretário de estado do ensino básico de cavaco, mandatário da candidatura de luis filipe menezes à câmara do porto, nomeado já por este governo para representante na casa da música e para dirigir a reforma do ensino militar, é presidente da fundação manuel leão (da qual o irmão carlos azevedo, bispo da igreja católica, é vogal) e director do secretariado diocesano da pastoral da cultura.

 

joaquim azevedo é, pois, não só um homem há muito ligado ao psd como um homem da igreja católica.  

 

não sejamos, porém, preconceituosos. procuremos perceber o que pensa sobre a questão da natalidade, antes de tirarmos conclusões precipitadas. procuremos.

 

e depois de muito procurar, encontramos, num enorme texto intitulado 'um carro desgovernado', de outubro de 2012, esta afirmação: 'erguemos uma sociedade contra a família, como se ela fosse essa coisa antiquada e anquilosada a descartar e local de manipulação das vontades individuais e de perda da independência. A tradição tem um importante lugar na construção do presente e do futuro, mormente no que à família diz respeito.'  

 

e prossegue: 'As famílias transformaram-se muito, após 1974. Muitas dessas mudanças foram bastante positivas, por exemplo, na medida em que libertaram os membros das famílias de amarras insuportáveis e na medida em que foi concedido outro grau de autonomia aos filhos. Mas as famílias não foram nem muito provavelmente serão algum dia substituídas por qualquer outra instituição social, por mais que estejamos ou venhamos a estar em período “revolucionário”. Ela é o locus social privilegiado de construção da relação, da experimentação do amor humano e do desenvolvimento de laços humanos. Ela é a primeira escola de sociabilidade que nenhuma outra “escola” poderá substituir, pois nenhuma outra contém a textura relacional profunda e a marca de humanidade que a família contém.

 

Por outro lado, muitas crianças e jovens crescem agora em famílias monoparentais, cujo número não pára de crescer. Uma nova aprendizagem se foi impondo em torno do ser mãe, pai e filho(a), para lá do modelo tradicional. Os portugueses e as suas famílias, em boa parte fruto do individualismo dominante, foram deixando de ter filhos. Portugal ocupa os primeiros lugares do mundo na redução da mortalidade infantil e preenche o penúltimo lugar entre os países do mundo no índice sintético de fecundidade (1,3), estando há trinta anos seguidos abaixo dos 2,1 necessários para que haja renovação de gerações. Somos um dos campeões do mundo em envelhecimento da população. A pirâmide etária está a ficar invertida, mas olhámos
para isso como se tivesse de ser assim mesmo, como daí não viesse qualquer problema, como se fosse “natural” e inapelável. 

A base da pirâmide etária não pára de diminuir, ameaçando seriamente a sustentabilidade do país e dos seus sistemas sociais. Está a ser cada vez mais difícil nascer em Portugal e constituir família e o próprio futuro deste retângulo debruçado sobre o mar fica ameaçado. Somos uma cultura própria e autónoma, com um património vivo e valioso aos olhos de todo o mundo, um país mais do que improvável, ou como diz
o Bispo do Porto, Dom Manuel Clemente: “Portugal culturalmente é uma teima, como geograficamente é uma praia, feita cais de partir e chegar, chegar e partir.” Somos uma teima ameaçada, um cais a afundar-se.

 

Além disso, as famílias sentem-se crescentemente ameaçadas pela crise atual, pelo desemprego e pela pobreza, mormente os jovens casais, que começam a reagrupar-se em torno das famílias de origem, pais e avós, provocando um reagrupamento intergeracional e o regresso às famílias alargadas. Novas realidades sociais desabrocham e lançam novas perguntas e apelam a novas respostas. Este quadro social tem de ser revisto, de outro modo o individualismo e o egocentrismo tomarão ainda mais conta dos nossos dias. Como disse, são visíveis os sinais da violência crescente que a falta de lugares de encontro-ágoras nas cidades está a gerar entre os diferentes (grupos sociais, culturas, estatutos profissionais, etc), quando sabemos bem que só no encontro é possível a busca do reconhecimento e do enriquecimento mútuos e a ocorrência das óbvias complementaridades.


Como se pode incentivar a nascimento de novas famílias e o nascimento de mais filhos nas novas famílias? Que laços intergeracionais podem ser reforçados? Como é que as políticas públicas podem e devem encarar o apoio à natalidade?'

 

portanto, o presidente da comissão que vai propor medidas para aumentar a natalidade acha que estamos (em portugal? na europa? no mundo?) em guerra declarada 'contra a família'. não explica porquê, mas parece que tem a ver com o pós-25 de abril -- que será sucedeu no pós 25 de abril de especial na área familiar? hum, terá sido o facto de as mulheres passarem a ter os mesmos direitos que os homens? de ter passado a ser possível o divórcio nos casados pela igreja? de os anticoncepcionais terem passado a ser acessíveis a todos? joaquim azevedo não diz, mas a gente imagina que sim. porém, que terá isso a ver com a ideia de 'guerra à família'? que impedirá qualquer dessas coisas que a família, entendida na acepção de azevedo como meio em que se nasce, seja a 'primeira escola de sociabilidade'? que trapalhada (mas trapalhada nossa conhecida, não é?).

 

prossegue com a monoparentalidade. chama-lhe família, vá lá. e diz que 'não pára de crescer', para começar, gostava de saber onde vão as pessoas buscar as comparações para dizer que há hoje mais monoparentalidade que por exemplo no século xviii, mas pronto, deixem lá. o que é mesmo importante para o caso que aqui nos traz é esta frase: 'Os portugueses e as suas famílias, em boa parte fruto do individualismo dominante, foram deixando de ter filhos.' temos pois o culpado, indicado por joaquim azevedo, de toda esta desgraça: o 'individualismo reinante'. 

 

sempre gostava de saber que medidas vai a comissão presidida por este senhor apresentar para combater o individualismo, esse malandro, já que o outro problema causal que identifica para a dificuldade de produzir crianças, a pobreza, foi um objectivo confesso do governo que o nomeou. mas ver um governo que erigiu o 'empreendedorismo' como religião e tem a precarização como catecismo, que fez tudo para pôr jovens contra idosos e erodir o papel dos sindicatos, a combater o individualismo vai ser mesmo um prato. a não ser que em causa esteja só e apenas o 'individualismo' das mulheres e os pavores do feminismo e 'teoria de género', d'aprés a conferência episcopal. vale uma aposta?

 

 

 

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