que se foda: ganhámos
é muito estranho para mim, geralmente tão indiferente ao futebol e tão esforçadamente resistente ao nacionalismo, o que senti ontem quando chorei ao ver ronaldo chorar e quando voltei a chorar com o golo de éder.
tento racionalizar isto invocando a arrogância francesa e a necessidade de redenção de um país pequeno e tantas vezes humilhado, das porteiras e dos bidonvilles e dos trolhas contra resgates e schauble e ultimatos, mas sei que é uma coisa tribal, que não há nenhuma fundamentação ética ou filosófica que explique isto, que é mesmo esta coisa da bandeira, da nacionalidade, da tribo, da pátria. que se compraz e comove com uma selecção feita de tantas origens, que não contém as lágrimas ante a alegria de dili, num reencontro celebratório com a ideia nunca verdadeiramente abandonada do mundo portuguez, de uma identidade global espalhada pelos continentes, de uma fraternidade que resistiu às conquistas sangrentas, aos massacres, aos saques, ao esclavagismo, ao racismo, a toda a brutalidade e estupidez e abandono e que se afirma assim, nestas lágrimas, nos cortejos de buzinas e bandeiras (e como é feia a nossa bandeira, céus) do outro lado do mundo. como se a nossa história comum fosse apenas a língua e bons sentimentos, como se fosse apenas amor.
odeio isto, este sentimentalismo, esta comoção bacoca. odeio. e no entanto, porra. foi tão bom, sabe tão bem. e são tão lindos, os nossos meninos. que se foda a racionalidade, que se foda o pensamento crítico, que se foda o cepticismo, e o cinismo, e a ironia. ganhámos. e precisávamos tanto.
(mas, atenção, marcelo -- que tens tanta sorte, caramba, como todos os malucos -- tens de condecorar também as nossas campeãs do atletismo, e devias fazê-lo ao mesmo tempo e no mesmo momento, que estou bacoca mas não estou louca)