quiz
Palavras de uma figura brilhante da intelectualidade portuguesa, algures na década de 1980. Cria-as exclusivas daquele tempo. Eu julgo-as premonitórias e de uma atualidade desarmante, passadas mais de duas décadas. Alguém adivinha a autoria?
"Nunca, como hoje, entre nós, tanto se falou de cultura, e nunca como hoje tanto se espezinharam e desprezaram a cultura e a inteligência. Pela degradação de tudo (os sítios, as instituições de cultura, o sistema educativo, a total ausência de sistema de investigação científica, o abandono das letras clássicas, a prostituição voluntária da língua portuguesa, a exaltação da tecnologia pela tecnologia, o apagamento da reflexão filosófica, a promoção da trafulhice mental marginalizando a seriedade e o rigor) tem-se impedido a complexa formação da memória da nação, que não é um dado imutável mas algo que está constantemente a refazer-se. Memória que só o é quando ligada à tensão inovadora a visar o porvir, mas que não apaga, não desbarata o passado, conquanto não pretenda revivê-lo anacronicamente.
Esse legado que as nossas mãos amassam para elaborarmos o que queremos fazer, inspira-se no, molda-se pelo espírito científico, que só por grave engano da mentalidade «pragmática» se confunde com a soma dos conhecimentos adquiridos, com a multiplicação dos «bancos de dados». (...) Por isso o nosso sistema educativo, se não quiser rebaixar-se (como parece pretender-se) a miserável escola oficinal e formação pseudotécnica, supostamente com saídas profissionais imediatas e seguras, subordinada a tacanha «lógica de mercado livre» (um dos mitos que obnubilam o nosso tempo), tem que organizar-se em função dos vetores que apontámos. É a base cultural que cada vez mais garante o êxito da formação tecnológica e da organização económica, desde as empresas aos macrossistemas. (...)".