Comecei bem, acabo melhor, com um dos meus músicos-fetiche. Esteve na Gulbenkian no ano passado, num concerto esgotadíssimo. Imaginem a minha cara quando, na Festa do Japão em Lisboa, há sensivelmente um ano (a de 2012 é daqui a dias) ouvi anunciar a entrega de vários bilhetes a uns quantos adolescentes que tinham acabado de vencer um passatempo pateta. Ocorreu-me logo o ditado das nozes e dos dentes.
Tive muita dificuldade em escolher uma música. Decidi-me por esta, por ser uma versão para piano de uma genial variação do Bolero de Ravel (bem mais interessante do que o original, na minha parcial opinião), da banda sonora deste filme.
É a 10ª escolha de piano. Citando Henricus Martellus, et hic moritur. Obrigado a quem escutou.
A vez de um músico português, um dos grandes, tantas vezes esquecido. A mais célebre do meu álbum preferido, velhinho, velhinho, faz este ano um quarto de século.
De volta à Sétima Arte. Um grande compositor de bandas sonoras, sobretudo de filmes do Tim Burton, autor daquele espanto que é a música de The Nightmare Before Christmas, entre outras. Fica aqui uma pequena jóia de Corpse Bride, um "diálogo" ao piano. "Pardon my enthusiasm"; "I like your enthusiasm".
Mais uma ilustre desconhecida, desta vez Maya Filipič, natural da Eslovénia mas que vive em Espanha. "Stories from Emona" é o nome, do álbum between two worlds.
De volta aos filmes, porque o piano é especialmente "visual". Desta vez, uma banda sonora que excede largamente, na minha opinião, o próprio filme. Não sendo caso raro que tal aconteça, é-o, contudo, de modo tão flagrante. Eis a minha favorita, Comptine d'un autre Été: l'Après-midi.
Esse mesmo, o medíocre de Amadeus na pele de F. Murray Abraham. Culpa de Peter Shaffer, que escreveu a peça que posteriormente deu origem ao filme multioscarizado (e justamente, diga-se). O problema é que Mozart foi elevado aos píncaros da genialidade musical, enquanto o seu némesis foi rebaixado à categoria de lixo, para não falar de invejoso e assassino. Coisas que a liberdade literária e cinematográfica permite, mas que deixam, depois, rasto e marca. Ora, para além de a trama exposta no filme ser perfeita ficção, a música de Salieri era tudo menos medíocre. Teve, talvez, o azar de se ter cruzado com Mozart e ter ficado, assim, ofuscado pelo fulgor (real e lendário) deste. Descobri a sua música há pouco tempo. Esta peça que aqui deixo é um deslumbre, tão-somente: o 2º movimento (larghetto) do Concerto para Piano e Orquestra em Dó. A versão é esta. Melhor ainda é a "variações sobre a Folia de Espanha", das coisas mais espantosas que ouvi nos últimos anos, mas não tem piano.
Que me desculpem os puristas, mas esta incursão heterodoxa é a única que aqui faço aos "clássicos". Ainda hesitei em colocar uma peça de Satie, mas contornei propositadamente aqueles "incontornáveis" da "sonata ao luar" de Beethoven, "clair de lune" de Debussy ou tanta, tanta coisa de Chopin. Ficará para uma próxima.
Depois do pianista "das bandas sonoras", uma incursão no cinema, numa escolha previsível mas inevitável: o grande filme de Jane Campion, com a Holly Hunter e o Harvey Keitel. Há coisas célebres e batidas que não deixam de ser magníficas e de merecer revisitação por causa disso.
Uma descoberta recente, aquando da sua passagem por Portugal, em 2009; infelizmente, uns dias depois da sua atuação, já não fui a tempo. Um compositor minimalista, muito emotivo e "cinematográfico". Só tive uma dificuldade: a escolha de uma peça. Eis "A Fuoco", deste álbum.