tão simples como isso
Acabei de ouvir, no "frente a frente" do Jornal da Noite da Sic Notícias, o deputado Luís Menezes dizer que Portugal é um "pequeno paraíso" no que respeita a certos "problemas". Que problemas? Ora aí é está o busílis. Aproveitando o seu minuto inicial para falar dos incidentes de Ferguson, referiu que se trata de uma cidade com 20 mil habitantes, 80% dos quais negros e que a polícia local é constituída, na sua quase totalidade, por brancos. E depois adiantou que por cá não se verificam tais situações, tanto mais que "os portugueses partiram à descoberta do mundo há 600 anos" (já cá faltava a lição de luso-tropicalismo). Bom. Seria boa ocasião para confrontar o deputado com dados sobre a componente "%-de-cor-de-pele" dos contigentes policiais que atuam na Amadora ou noutras localidades e da respetiva população, mas é melhor nem ir por aí. Basta constatar o incrível grau de ignorância que revela, daquela básica-nhurra-truz-truz-bate-na-madeira, quando menciona o facto de "Portugal não ter problemas com os seus imigrantes" que, aliás e segundo o mesmo, "recebe muito bem". Em bom português dir-se-ia que é parvo ou faz-se: como é que um deputado eleito da nação não percebe que nem os habitantes de Ferguson (e o jovem baleado que deu origem aos tumultos) são "imigrantes", nem os "alguns" problemas que diz existirem em Portugal envolvem "imigrantes". Numa palavra, são todos naturais, cá e lá. O que ele não quis dizer é que o problema, em Portugal (como nos EUA, neste caso) é de origem rácica (ou étnica, para ser mais politicamente correto). A paranóia mediática sobre meets e arrastões não acirra e alimenta o medo e instiga o ódio a imigrantes ou estrangeiros, mas a negros, por serem negros. Portugueses. Mas para o deputado, português tem que ser branquinho como ele; se é preto, então é imigrante. Tão simples como isso.