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Tragédia em Ourique: um esclarecimento

Decidi esperar para ver se algo acontecia, como não houve retratação aqui fica o esclarecimento público através de um texto publicado na versão em papel do Diário do Alentejo.

 

Trabalho no Baixo Alentejo, para os baixo-alentejanos, é a eles que em primeira mão devo e quero prestar esclarecimentos. Dizer ainda que optei por frenar a minha intempestividade e só agora falar publicamente pelas características particulares do assunto e porque tive a esperança de uma retratação pública que, passadas que estão mais de duas semanas, não ocorreu. Por último, referir que esta quase carta aberta reproduz no essencial o que tive oportunidade de dizer pessoalmente a José Raul dos Santos em Ourique, onde me desloquei no dia seguinte ao da tragédia.

 

Quando algo de grave acontece em instituições que dirigimos é natural que tentemos perceber o que falhou, e falha sempre alguma coisa quando algo de grave e violento acontece. Já menos legítimo e mais desonesto é prestar informação pública que não corresponde à verdade.

 

Ao contrário do que foi referido no comunicado institucional, não é verdade que o serviço de psiquiatria do hospital de Beja “concedeu altas consecutivas" à senhora que alegadamente matou outra nas instalações do lar da Santa Casa da Misericórdia de Ourique, de cuja instituição José Raul dos Santos é provedor. O serviço de psiquiatria da ULSBA não só não deu “altas consecutivas” como pura e simplesmente não deu alta, mantendo em acompanhamento ambulatório a referida senhora, tendo a última consulta acontecido em março e ficada marcada a subsequente, como consta de documento presente no processo individual do lar. Infelizmente não se irá realizar.

 

Já em relação a internamentos, o serviço de psiquiatria deu uma única alta na sequência do internamento de cerca de um mês a que a senhora foi sujeita em julho de 2015. Quanto a idas à urgência psiquiátrica, como também está documentado, a última aconteceu em setembro de 2015, não tendo a senhora ficado internada no serviço de psiquiatria por não existirem critérios clínicos que justificassem o seu ingresso num serviço de agudos.

 

Se me quisesse comportar com a mesma leviandade poderia ter questionado, pública e imediatamente após o sucedido, a vigilância aos utentes que é feita no lar da Santa Casa da Misericórdia de Ourique onde alguém foi morto violentamente num quarto sem que ninguém se tenha apercebido. Não o fiz nem farei porque em causa está um evento a esclarecer, alegadamente perpetrado por uma doente mental e eu sei bem como os imponderáveis acontecem e como é doloroso o nosso trabalho ser injustamente posto em causa.

 

Que este caso nos faça questionar, a todos mas a mim e a um qualquer provedor de uma Misericórdia em particular por razões mais do que óbvias, a necessidade de se avançar rapidamente para a formalização de estruturas de cuidados continuados integrados de saúde mental, não só entendo como sou solidária com qualquer um deles que o faça. De facto estes doentes necessitam de estruturas de retaguarda de características especiais onde existam técnicos com formação específica - e mesmo assim a probabilidade de ocorrência de eventos graves nunca será igual a zero, há que o assumir.

 

No entretanto o serviço de psiquiatria da ULSBA continuará a articular-se, dentro daquilo que são as suas possibilidades e recursos, com as estruturas da comunidade para tentar responder às necessidades, como o fez na terça-feira, dia 10 de maio, quando se deslocou a Ourique para uma reunião com técnicos do lar e com o provedor, na sequência de uma solicitação que nos foi dirigida pela instituição. Mesmo não havendo na ULSBA uma equipa de intervenção em crise por falta de recursos, o serviço de psiquiatria deu uma resposta imediata ao pedido de ajuda que nos foi endereçado, penalizando naturalmente os doentes que tinham consultas programadas agendadas para esse dia. Assim continuaremos a fazer.

 

Se todos os erros do serviço que dirijo e pelo qual, para o bem e para o mal, sempre responderei publicamente forem estes continuarei a ser, como até aqui tem acontecido na minha vida, uma mulher de sorte.

 

Ana Matos Pires, diretora do Serviço de Psiquiatria da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Beja)

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