Táctica política
Estou a ver o debate da sic notícias sobre o PSD. O Henrique Raposo pode ter muitos defeitos, mas é o único que está a tentar discutir política. Os restantes — Henrique Monteiro, António Costa Pinto e André Freire — dedicam-se a algo que podemos chamar de análise táctica da realidade política. Enquanto o Henrique Raposo assume o seu posicionamento ideológico e defende os valores e as ideias em que acredita, os outros falam como se fossem cientistas que se dedicam a observar uma realidade que lhes é exterior — e não se comprometem. Estes politólogos preferem a análise de estratégias, de movimentações, de dinâmicas, de tendências, de sondagens — como se a política fosse um jogo de futebol, uma realidade passível de ser compreendida com rigor e mestria. O que interessa é a lógica dos factos, e não o compromisso com valores. O politólogo relaciona-se com a política como se esta fosse um jogo e ele um observador esclarecido e não comprometido.
(Assumo o meu preconceito: não gosto de politólogos que procuram separar análise política da sua posição política particular).
A ideia de que um analista político é um cientista, alguém que deve pairar acima da realidade analisada, é um vício moderno que prejudica a vida política de uma comunidade. A "objectividade" até pode ser um ideal a que devemos aspirar em física, mas em política despolitiza as discussões, o que contribui para o empobrecimento do debate político. Esta especialização quase técnica do comentário político também têm outro defeito: introduz dicotomias entre cidadãos (os cientistas e os outros), o que leva a coisas como "polítologos dizem que Cavaco não criticou José Sócrates". Se calhar estou a ser injusto: a culpa também é de quem conduz e determina os termos do debate. Na maioria das vezes, são os jornalistas que preferem a objectividade dos politólogos à parcialidade dos "meros comentadores". São os tempos em que vivemos. São os tempos da ciência enquanto ideologia (que não se reconhece como tal). Quem sai a perder é a democracia.