No princípio, era o autocarro ateu. E era muito bom.
A campanha dos autocarros ateus terminou há uma semana na Alemanha. Ou antes, a campanha do autocarro ateu, porque as autoridades locais alemãs, tal como em muitos outros pontos do globo, se recusaram a afixar publicidade tão «controversa» e os organizadores decidiram fazer uma tour pela Alemanha com um único autocarro, alugado para o efeito.
Os autocarros exibiam o slogan «Não há (quase de certeza) nenhum Deus», seguido de três variantes complementares - «uma vida plena não precisa de crenças», «para nós, os nossos valores são humanos» e ainda «o esclarecimento (enlightenment) exige-nos responsabilidade».
O autocarro ateu alemão, que tanto trabalho teve em arrancar, foi seguido na sua volta pela Alemanha por um autocarro de cristãos evangélicos que, sem quaisquer problemas em reunirem o dinheiro necessário, saltaram a bordo da campanha para espalhar a falácia conhecida como a aposta de Pascal. Pode ser que a convivência tão próxima com ateus tenha deixado algum bichinho de espírito crítico nos cruzados por Cristo (a iniciativa teve os auspícios da Campus Crusade for Christ) e num futuro não muito longínquo seja possível ver alguma publicidade ateia sem que isso provoque os achaques que esta primeira versão despoletou. Isto é, pelo menos na Alemanha: considerando a subserviência à Igreja dos nossos responsáveis políticos, mesmo de um partido supostamente laico, não acredito que uma campanha destas alguma vez pudesse ser realizada em Portugal.