Nota sobre o artigo de Pedro Magalhães
No Público de hoje, o Pedro Magalhães defende a importância e o valor dos politólogos para a vida e o debate democrático de um país. Tenho um problema de fundo com a opinião do Pedro, pois ele apresenta-nos uma visão de mundo maniqueísta sem grande adesão à realidade. Não é aceitável que ele contraste a isenção e rigor dos politólogos com a parcialidade de pundits como Bill O'Reilly, Keith Olberman e Sean Hannity. Essa dicotomia está longe, muito longe, de esgotar as opções existentes. O que é desejável é ter comentadores intelectualmente honestos, que respeitem a inteligência dos seus interlocutores e regulem as suas intervenções por uma ética de cidadania. Se tal acontecesse, o facto de terem uma posição política particular seria irrelevante. A opção não é entre a objectividade dos politólogos e a subjectividade parcial e enviesada dos comentadores. Esta divisão platónica entre verdade e opinião é anti-democrática, pois remete a opinião de quem não é politólogo para o reino da "mera opinião". Quando Pedro Magalhães diz que os comentadores cumprem "a função de comentadores supostamennte informados mas, na prática, fazendo parte de um sistema de produção de opiniões cada vez mais politizado e partidarizado, e cuja relação com alguns factos básicos conhecidos sobre a vida política é, no mínimo, problemática" ele está a lançar um anátema sobre todos aqueles que pretendem intervir no debate público partindo da sua perspectiva ideológica. A resposta a uma lógica perversa de barricada ideológica não pode passar por eliminar a ideologia dos comentadores. Basta que se seja exigente com quem comenta e que haja jornalistas suficientemente isentos e imparciais para denunciar aqueles que distorcem os factos e argumentam de forma desonesta. Se partirmos da pressuposição de que apenas os politólogos são capazes de conduzir um debate de forma racional, estamos a capitular perante a desonestidade intelectual de alguns e a entregar o espaço público a cientistas supostamente isentos. Ou seja, estamos a dizer que só despolitizando o debate podemos ter um debate político. Estão a ver a contradição? Salvaguardando as devidas proporções, a lógica do Pedro Magalhães não é muito diferente da que esteve na base do editorial de José Manuel Fernandes sobre os manifestos sobre o investimento público. Em democracia, isto é inaceitável.