Pessoas com a mesma informação chegam necessariamente às mesmas conclusões
No blog da SEDES, Vítor Bento acusa os defensores do TGV de praticarem Voodoo Economics nas suas análises custo-benefício. O que é o Voodoo Economics? É uma projecção que carece de objectividade. No caso do TGV — e, por implicação, em grande parte dos investimentos proposto pelo PS —o problema é que parte da rentabilidade esperada do projecto depende "de componentes da mais pura e arbitrária subjectividade”, como os "benefícios obtidos com a redução do tempo médio de viagem das travessias sobre o Tejo" , a "redução dos custos operacionais dos carros que dessa forma se consegue e pelo impacto positivo em termos ambientais", o "aumento de produtividade". Ficamos a saber que intangível e dificilmente quantificável são sinónimos de pura arbitrariedade. E ficamos também a saber que Vítor Bento defende uma bizarra e misteriosa metodologia de análise de projectos, pois todas as avaliações dependem de interpretações subjectivas.
Em rigor, Vítor Bento devia substituir objectividade por prudência, pois os seus conselhos não são científicos, são exortações morais baseadas numa interpretação — a sua — daquilo que é a realidade. Isto não é necessariamente uma crítica, desde que ele reconheça esse facto e saiba tirar daí as devidas conclusões. Mas tirar daí as devidas conclusões implica avançar para uma discussão política sobre o futuro de Portugal, e apresentar alternativas. E implicaria, sobretudo, falar dos riscos de não fazer certas escolhas. No entanto, Vítor Bento colocou-se numa posição a partir da qual tal se afigura impossível: uma discussão política pressupõe uma visão de futuro, e esta requer uma boa dose de "componentes da mais pura e arbitrária subjectividade”. A conclusão lógica das críticas de Vítor Bento é: urge abandonar de vez todos os pressupostos optimistas que não respeitam a nossa realidade! Reconheço que é uma opção possível, mas tem um problema: se não se procura construir o futuro, ele acontece-nos. Para quem pensa assim, é natural relacionar aumentos de produtividade com redução de salários.
(publicado também aqui)