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Eu não dizia que cada país tem a Sarah Palin que merece?

Os padres das paróquias da Baixa resolveram tecer encómios a Pedro Santana Lopes no respectivo boletim paroquial e anunciar ao seu rebanho que o apoiam na corrida autárquica para Lisboa.

 

No último boletim das paróquias da Baixa-Chiado, o cónego Armando Duarte, que pressurosamente esclareceu ser apoiado no panegírico pelos restantes párocos, escreveu, completamente sem vergonha na cara, que  «Este homem ama a Cidade! ... Este homem é um homem de palavra!... Este homem tem visão!... Este homem tem vergonha!». 

 

A  elegia exclamativa do Santana Flopes cujas qualidades pudemos apreciar em todo o seu horror nos (felizmente para o país escassos) meses em que  dirigiu o executivo que nos (des)governou, é explicada num parágrafo precedente:

 

«Em 2002, mal tomou posse, Santana Lopes recebeu-nos e aproveitou para nos dizer que queria ajudar na reabilitação das nossas igrejas».

 

Ou seja,  dar lustro (e, principalmente, dinheiro) ao ego clerical é q.b. para apoiar efusivamente um político  para o padre  que seguramente secunda a  frase excelsa da laicidade clerical inclusiva de Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e porta-voz do episcopado, a propósito das ilusões nacionais sobre a nossa ser uma sociedade laica.

 

O facto de António Costa não se ter prestado a beija-mãos à Igreja nem a ter favorecido monetariamente, desfavorece, segundo o artigo do referido boletim paroquial, o candidato socialista. Pior ainda, para o referido senhor, que carpe estridentemente no mesmo tom do comissário político da Igreja que ululou, em prime time e numa entrevista transmitida na íntegra pela televisão pública, as invectivas do «estado militantemente ateu» e o laicismo desenfreado de alguns ministros,  António Costa não acautela os melhores «interesses paroquiais»:

 

«Contudo, a nosso ver, em dois anos de mandato, António Costa nada alterou, antes agravou o impasse, tratando as paróquias e as irmandades, umas vezes como se fossem perigosos especuladores imobiliários e, outras vezes, como se fossem travões obscurantistas da cultura que interessa a uma Lisboa moderna e progressista.»

 

Não sei se em Lisboa se repete o que acontece em Itália - e em Roma em particular - em que a Igreja é de facto o maior especulador imobiliário do país, mas não tenho dúvidas, e se as tivesse o padre Serras Pereira rapidamente as tiraria, que as paróquias e irmandades são de facto demasiadas vezes travões obscurantistas  á modernidade e ao progresso. Mas em particular  espanta-me  que  a Igreja, pelo menos pelo que reflecte esta exortação ao voto em Santana Lopes, continue no século XXI não só a considerar que a política existe para servir os interesses dessa mesma Igreja como a imiscuir-se descarada e indevidamente em assuntos em que deveria abster-se de pronunciamentos, em particular por razões tão vis.

 

E espanta-me que o interessado (ou será interesseiro?) padre  não se aperceba que este manifesto anti- António Costa é no mínimo um tiro no pé que revela apenas que para a Igreja a política não passa de um leilão em que se arremata o voto ao melhor licitador.

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