incompreensível. deplorável. obsceno
a ser verdade o que diz esta notícia, ou seja, que a comissão da carteira profissional de jornalistas, perante o limagate, se limita a abrir um inquérito à eventual violação dos deveres profissionais dos jornalistas do dn envolvidos na publicação das notícias que revelaram o email de luciano alvarez a tolentino da nóbrega e o conluio entre alvarez e o assessor da presidência, parece evidente que a comissão da carteira de jornalistas é mais uma das instituições públicas que não está à altura das funções e da dignidade que lhe é conferida.
recorde-se que a comissão da carteira, que nunca acordou do seu torpor a propósito, por exemplo, das flagrantes violações da deontologia cometidas no jornal nacional de sexta da tvi, violações essas que mereceram a censura de outro órgão deontológico dos jornalistas, o conselho deontológico do sindicato respectivo, também não reagiu às denúncias contidas nos dois textos que joaquim vieira fez publicar no público. denúncias essas que claramente só puderam existir com base do testemunho do jornalista do público tolentino da nóbrega, por ironia membro suplente da comissão da carteira, e que, de acordo com o que tem sido noticiado por exemplo no correio da manhã, foi alvo, logo após a publicação da primeira parte da denúncia do provedor, da fúria do director do público -- que não se inibiu também, segundo relato do próprio provedor, de chamar 'mentiroso' a joaquim vieira.
ao não abrir um inquérito ao público, a comissão da carteira de jornalista está a dizer que o comportamento do público, quer o denunciado nas notícias publicadas pelo mesmo a 18 e 19 de agosto, quer o exposto de forma contundente e consubstanciada nas colunas do provedor, quer, por fim, o plasmado no mail publicado pelo dn e nas afirmações subsequentes de josé manuel fernandes (ao afirmar, primeiro, que o mail era forjado, e um minuto depois, que só podia ter saído do jornal por via da intervenção de 'serviços secretos' -- duas asserções cuja falsidade viria a reconhecer no mesmo dia) não lhe suscita quaisquer dúvidas deontológicas.
está também a dizer que não dá qualquer crédito às acusações do provedor do público e ao testemunho do seu membro tolentino da nóbrega. está a dizer que o que lhe parece grave é que um jornal tenha ousado revelar a forma como outro jornal cozinha notícias com assessores de uma figura do estado -- não que se cozinhem notícias. está a dizer que nem o facto de o assessor envolvido no cozinhado ter sido entretanto demitido lhe suscita dúvidas sobre a admissibilidade ética do que se passou entre ele e o público.
tenho dificuldade, como jornalista cuja acreditação profissional depende das decisões desta comissão e como cidadã de um país no qual cabe a esta comissão zelar pela lisura das práticas jornalísticas, em exprimir toda a dimensão do desgosto que sinto perante isto.
declaração de interesses: tenho neste momento pendentes, na comissão da carteira, três queixas contra jornalistas.