As dúvidas do Presidente e o Exterminador Implacável
Ainda mal refeita da vergonha que senti ontem, eis se não quando abro as páginas virtuais do Público e deparo com um editorial tão nonsense (e info-excluído) quanto as declarações à comunicação social do presidente supostamente de todos os portugueses. Realço a parte que me surpreende, pela total tolice:
«E a seguir acrescentou que essa publicação desse e-mail privado lhe suscitou a seguinte dúvida: 'Será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus e-mails? Estará a informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República suficientemente protegida?'»
Presumo que o presidente, que não lê jornais e apenas ontem consultou «especialistas» sobre o tema, não saiba que ninguém está livre de ataques de hackers, nem mesmo a Casa Branca ou o Pentágono.
Mas José Manuel Fernandes deveria estar melhor informado e não continuar esta ópera bufa mal amanhada num editorial tão desconchavado quanto a comunicação de ontem. Ou seja, quer o PR quer JMF tomam-nos a todos por tolos ao pretenderem sacudir a água do capote com verdades de La Palice absolutamente cretinas. Será que nos querem convencer que as tais prometidas questões de segurança que só os «ingénuos» não percebiam se referem a segurança informática e que os espiões não vêm do frio mas da rede?
Isto é, o PR vem dizer que afinal nunca teve suspeitas de escutas e de espiões com falta de maneiras à mesa - e JMF assobia para o lado sobre as duas manchetes sensacionalistas à conta destas suspeitas. O que é relevante não é o caso dos espiões que nunca existiram mas o mail revelado pelo DN que, esse sim, suscitou suspeitas no PR - tão importantes que o PR sentiu a necessidade de as comunicar ao país mesmo antes de as confirmar. Palermices Vulnerabilidades informáticas que configuram, para JMF, outro caso, «que é grave e deve ser esclarecido depressa».
Mas esta gente, quem escreveu o discurso do presidente e JMF, passa-se toda ou considera mesmo que os portugueses são uns imbecis info-excluídos? Será que consideram mesmo que aquele balbuciar de disparates a que todos penosamente assistimos esclareceu alguma coisa para além de dúvidas que eventualmente persistissem em alguns sobre os sentimentos de Cavaco em relação ao Governo? Há certamente muito jogo sujo nesta história mas penso ter ficado igualmente claro qual foi a mão que deu as cartas viciadas!
Adenda: De leitura imprescíndivel o editorial de João Marcelino. Igualmente imprescíndivel este esmiuçar de toda a água do capote sacudida...