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Mulheres em Ciência

A fundação Nobel revelou há uns minutos os laureados em Medicina deste ano.Elizabeth H. Blackburn, Carol W. Greider e Jack W. Szostak receberam o Prémio Nobel pela sua descoberta dos mecanismos de protecção dos cromossomas pelos telómeros e pela telomerase.

 

Os telómeros, sequências de ADN  embrulhadas em proteínas que protegem as pontas dos cromossomas, foram propostos na década de 30 do século passado por outro grande nome da ciência, Bárbara McClintock, uma das três mais importantes figuras da história da genética. De cada vez que um cromossoma linear é copiado na divisão celular,  o ADN de ambas as pontas degrada-se. Sem um mecanismo que evite esta erosão, as células acabariam rapidamente por perder cromossomas importantes.  A telomerase, a enzima que repara os telómeros, pareceu a muitos a chave  para a fonte da eterna juventude. A senescência celular – que se caracteriza pela perda da capacidade das células normais se dividirem – pode ser uma manifestação de perda da telomerase. O quadro real é no entanto muito mais complexo porque nem sempre ter células imortais é uma boa ideia, bem pelo contrário. Isto é, no reverso da medalha da eterna juventude encontramos as células tumorais, tornadas imortais pela telomerase.

 

Mas este anúncio é excitante não só pelo trabalho que foi premiado mas também pelo facto de duas mulheres terem sido as recipientes do prémio. Desde 1901, data em que este prémio foi atribuído pela primeira vez,  excluindo os laureados deste ano, 35 mulheres no total e 13 em ciência mereceram tal distinção das várias comissões Nobel -  as comissões de ciência são constituídas quasi exclusivamente por homens, com a honrosa excepção de Astrid Gräslund, que integra desde 1996 o grupo que escolhe os laureados em Química.

A percentagem de mulheres que integram estas comissões é muito superior - mais do dobro - à percentagem de mulheres laureadas, pouco mais de 2% do total de medalhados. Discriminando por disciplinas verificamos que a Medicina ocupa a «pole position» com 8 mulheres (4%), seguida da Química, 3 premiadas ou 2% do total, enquanto em Física há apenas duas Maria's nobelizadas (1%), Maria Goeppert-Mayer e Marie Curie. Se resolvermos analisar o equivalente em Matemática do prémio Nobel, a medalha Fields, os resultados são ainda mais desencorajadores: não há uma única mulher laureada!

É ainda curioso analisar a distribuição temporal destes prémios que, estranhamente, indicam que pessoalmente ficaria mais animada se realizasse esta análise há 45 anos. De facto, cerca de metade destes prémios foram atríbuídos até 1964, o que inclui todos os de Física e Química, sendo que apenas três foram atribuídos nos últimos 10 anos e 5 nos últimos 20 anos. Isto é, a percentagem de prémios Nobel no feminino «sobe» para 3% nos últimos 20 anos mas todos os prémios são em Medicina. Embora existam cada vez mais mulheres a trabalhar em Química e Física, como aliás em todas as áreas científicas, há mais de 40 anos que não há um laureado feminino nestas áreas.

 

Para que não pensem que há qualquer bias da minha parte nem que estou a carpir «quotas» ou algo similar, vale a pena ler na íntegra o depoimento do neurocientista Barres. Ben Barres, professor de neurociências em Stanford, iniciou a sua carreira científica como Barbara Barres. A sua experiência pessoal completamente única, relatada ao ScienceDaily, ajuda a perceber estes números.

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