Berlusconices: crise institucional em Itália?
«Há magistrados vermelhos, de esquerda, que utilizam a justiça como um meio de luta político. E 72% da imprensa é de esquerda. Os processos que vão ser abertos são totalmente falsos. Vou sacrificar uma parte do meu tempo institucional, para ridicularizar os meus acusadores. Este tipo de coisa dá pena, tanto à mim como aos italianos. Viva a Itália, viva Berlusconi».
A reacção de Berlusconi à decisão do tribunal constitucional que rejeitou a Laudo Alfano por violar o princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei foi esta: chamar perigosos esquerdistas aos juizes, à imprensa e em particular ao presidente Giorgio Napolitano, que não o defendeu dos ataques da "sinistra". Acusações que reiterou de forma ainda mais dura numa entrevista telefónica ao programa Porta a Porta na sua RAI1 (vale a pena ouvir na íntegra ...)
A Presidência da República italiana reagiu prontamente (que diferença...) comunicando que “Toda a gente sabe que lado está o Presidente. Está do lado da Constituição, e exerce as suas funções com absoluta imparcialidade”.
A resposta de Berlusconi, não sei porquê, recordou-me outras reacções: «Não estou interessado no que diz o chefe de Estado, não estou interessado... Tenho a impressão de que estão a gozar comigo e isso não me interessa. Ponto final».
O editorial de hoje do Il Messaggero apela a “nervos de aço” para que não haja escalada de tensão institucional porque, conclui, «O problema real é o bem do país». Não me parece que Berlusconi alguma vez tenha sequer considerado algum bem que não o próprio. Como comentou à Sky TG24 o secretário geral do Partido Democrático, Dario Franceschini,«O lobo perdeu a pele mas não os seus vícios». Diria que se aproximam uns tempos interessantes em Itália...