Continuando a discussão
Depois de ler este post não resisto a recordar que a enormíssima maioria das campanhas é dirigida, e bem, à prevenção da infecção e não à informação sobre a doença. Já em relação às "reais probabilidades" e ao "risco de infecção", como dizia noutro dia a infecciologista Emília Valada "estar vivo é condição necessária para ser infectado". Continuando a leitura - e depois de um breve momento de perplexidade porque achei que o autor estava numa conversa de "sigo para sigo", a monologar – acenei com cabeça em sinal de concordância quando percebi que o João estava preocupado (está, não está?) e que considerava muito grave (considera, não considera?) ainda haver gente a achar "as probabilidades de infecção surpreendentemente baixas e a não perceber a noção de risco". Por isso mesmo penso que nunca é demais passar a mensagem de que o bicho não tem afinidades electivas - é um igualitarista, digamos assim - e que a infecção não diz respeito a um qualquer grupo de risco restrito nem é própria de quem “frequenta a prostituição”.
O João Miranda, que tanto pugna pela informação, desanca as campanhas no seu todo e acaba por relevar como factor de eficácia das ditas o rigoroso conhecimento da percentagem de eficácia do uso de preservativo. Se não fosse grave tinha graça. Só por curiosidade gostava de saber se o João tem as vacinas em dia e se sabe a percentagem de eficácia de cada uma das vacinas que integram o Plano Nacional de Vacinação. De uma vez por todas adoraria perceber qual é a alternativa preventiva ao uso de preservativo na infecção pelos HIV's por via sexual - não paternalizando nem controlando as normas de conduta dos sujeitos, claro. Faço notar que, em rigor, é impossível garantir 100% de eficácia a qualquer medida preventiva dirigida à patologia infecciosa em geral, não só ao HIV. A propósito de paternalismos e imposição de comportamentos, o que dizer de quem defende que a “melhoria dos hábitos conjugais”* - seja lá isso o que for - é um modo de controlar a infecção e de quem declara que o grosso da população é estúpida que nem um atum e, sem qualquer juízo crítico, "acredita", "crê", "tem a fezada" que deve usar o preservativo porque sim ou porque a mandam e que os homossexuais, contra toda a lógica "mirandiana", não devem ser discriminados na doação de sangue? Estas posições fazem-me lembrar uma frase que ouvi um dia a um Professor, "vim agora de um congresso em Genebra onde só génios éramos oito". Para terminar, juro que ficaria agradecida se alguém fizesse o obséquio de me explicar como é que se fica muito indignado com o facto de três décadas de campanhas terem essencialmente servido "para transmitir algumas normas conduta, normalmente inspiradas em movimentos alternativos de luta pelos direitos dos homossexuais" quando se defende que esta história da infecção pelo HIV diz respeito aos "grupos de risco", em particular aos homossexuais. Em que ficamos? Então não é dirigindo as campanhas para "os grupos de risco" que se aumenta a sua eficácia e se poupa uma pipa de massa? Não percebo. [audio:http://5dias.net/wp-content/uploads/2008/07/rcp_sida_rodrigofonseca.mp3] * a afirmação não pertence ao JM, como se pode comprovar no som acima, só a chamei à colação porque o Rodrigo Adão da Fonseca subscreve por inteiro o texto, considerando-o “mais um texto que acerta na mouche”.

