E os “gatos”, senhor, os “gatos”?
Soube da história aqui e voltei a lê-la hoje de manhã no DN Online. A crença da sodomização do tareco e o acting out comportamental que essa convicção determinou não é, naturalmente, defensável. Em todo o caso, por provável deformação profissional, posso sempre colocar a hipótese diagnóstica que tal alteração do pensamento – ideia delirante – está na base das alterações comportamentais referidas – heteroagressividade e bizarrias comportamentais durante o julgamento – e integrar esta sintomatologia numa provável perturbação psicótica. Estupefacta fiquei, contudo, com as declarações que os orgãos de informação atribuem ao juiz – não me refiro à setença propriamente dita, entenda-se. Os sublinhados são meus. Sobre o arguido diz o senhor doutor ter sido a sua «postura durante o julgamento “profundamente desconcertante” e com um “comportamento homofóbico”». «Dar um tiro em alguém por ser homossexual e por supostamente ter tido relações sexuais com um gato que ajudou a resgatar, e por isso o animal ter ficado paneleiro, é talvez o motivo mais torpe que eu já vi na minha vida”, frisou o magistrado». «Esse motivo é revelador “de uma insensibilidade atroz pela pessoa humana”, referiu João Amaral lembrando o caso do transexual Gisberta que morreu às mãos de jovens menores e comparando o comportamento destas com o do arguido». Isto, sim, é para mim verdadeiramente incompreensível e desconcertante. Ps1: Só uma picuinhice, ou talvez não, senhores jornalistas: “da” Gisberta. Ps2: Já agora uma outra (verdadeira) picuinhice: “destes” (jovens) e não destas. Adenda: Sobre o mesmo assunto, aqui fica o link enviado pelo Jaime Roriz.