E já que a espuma dos dias a isso propicia, uma prenda a considerar: o livro do capelão humanista de Harvard, quase, quase a chegar às prateleiras. Deveria ser leitura obrigtória, sei lá, para Sousa Lara, Mário David, José Policarpo, Ratzinger e tantos, tantos outros, que,
ao mesmo tempo que exigem respeitinho por um mero calhamaço, não têm um pingo de respeito pelas pessoas que não vão em vacas sagradas.
Como escreveu o Daniel, «Ontem, na SIC Notícias, um teólogo teve uma intervenção bastante interessante. Estragou a pintura quando disse que “Saramago não gosta de Deus, mas Deus gosta muito Saramago”. Parece inocente e até simpático. Mas não é. Saramago é ateu. Não se trata por isso de não gostar de Deus. Saramago não acredita na existência de Deus. Fingir que essa descrença não existe e ter um discurso condescendente é aquilo que faz muitos ateus como eu mandarem por vezes às malvas o respeito supostamente devido à fé dos outros. Se eles não respeitam a nossa falta de fé e a tomam como uma simples fraqueza, porque não podemos fazer nós o mesmo com as suas convicções religiosas?»
não fique que eu explico: celebrações no solstício de inverno acompanham a humanidade muito antes dos primórdios da história.
o natal nasceu do Dies Natalis Invicti Solis, que celebrava o nascimento de outro deus, Mitra, que por sua vez substituiu, pelo menos nas classes mais altas, a Saturnalia romana, que por sua vez se inspirou em inúmeras outras festas ditas pagãs. isto para não falar no Yule nórdico
Foi em meados do século IV que o Papa Julio I declarou que o nascimento de Cristo passaria a ser celebrado a 25 de dezembro para absorver esses costumes «pagãos».
Ainda assim, uma celebração de fundo religioso... ou um deus sol já não faz mal? é que honestamente continuo sem perceber a lógica de celebrar datas cujo fundo seja, mais ou menos veladamente, religioso, a partir do momento em que se arma um pé de vento contra todas as premissas da fé...