Louçã, outra vez
Louçã afirmou ontem na Assembleia da República: "O Primeiro-Ministro gasta três vezes mais no BPN do que na crise económica".
Quando alguém afirma algo que sabe ser falso para daí tirar vantagem, esse alguém está a mentir.
Ora, nem o primeiro-ministro, nem o governo, nem o Estado gastaram um tostão sequer no BPN.
A verdade é outra: a Caixa Geral dos Depósitos, banco do Estado, emprestou dinheiro ao BPN, banco recentemente nacionalizado na sequência das tropelias que se sabe.
Primeiro ponto: emprestar dinheiro não é dar dinheiro, como entende qualquer pessoa que já contraíu um empréstimo à habitação.
Segundo ponto: como o BPN foi nacionalizado para evitar a sua falência, é claro que quaisquer perdas ou lucros que venha a ter reverterão para o Estado.
Terceiro ponto: é possível, mas não seguro, que o Estado possa vir a ter que meter dinheiro no BPN.
Quarto ponto: como o público ainda não sabe qual a situação do BPN neste momento, ninguém pode afirmar que o Estado lá gastará três vezes qualquer quantia que se entenda tomar como termo de comparação.
Logo, tudo o que Louçã disse na sua pequena frase é mentira.
A isto, já me contra-argumentaram que o Estado ainda não pôs dinheiro no BPN, mas que no futuro poderá pôr. E eu respondo que amanhã Louçã poderá deixar de mentir, mas que, até hoje, não fez outra coisa.
Isto é muito grave, especialmente porque, sendo Louçã economista, ele não pode ser vítima de confusões que se desculpariam em leigos na matéria. Mente e sabe que mente.
Acresce que, para além do que literalmente afirma, Louçã insinua. Desde logo, insinua que o governo e o primeiro-ministro voluntariamente desviaram dinheiro que poderia aliviar a condição dos pobres em proveito de Oliveira e Costa, Dias Loureiro e seus amigos.
Mais uma vez, Louçã sabe que isto é falso. A intervenção do Estado no BPN destinou-se a evitar um mal maior, do qual as principais vítimas seriam aqueles que arduamente ganham a vida com o seu trabalho.
Nada disto me surpreende. De um trampolineiro como Louçã não se poderia esperar outra coisa, nem sequer que algum dia se emende.
Mas eu gostaria de entender como é possível ele mentir repetidamente de forma tão evidente durante meses a fio com a aparente cumplicidade de todos os seus camaradas de partido.
Serão todos demasiado ignorantes ou demasiado desonestos para se oporem a uma forma tão reles de fazer política?