enke
nunca tinha ouvido falar de enke. leio na blogosfera posts e posts sobre ele, nos jornais textos e textos. era alemão. era um guarda-redes com uma cara patusca. gostava de cães, era o que se chama um defensor dos animais. teve uma filha que morreu. esteve no benfica. matou-se. há teorias sobre o motivo (há sempre). há um bilhete (não sei o que diz e não quero saber). houve um enterro com milhares de pessoas, o caixão coberto de flores num estádio, um rapaz a chorar agarrado à mãe (família? amigo? fã? não sei).
comove-me o espectáculo desta dor (por que será que nos comove quase sempre o espectáculo da dor?) da mesma forma que um dia, jornalista em reportagem na irlanda do norte, chorei no enterro de um membro do ira que nunca vira mais gordo por causa das gaitas de foles na neblina sobre o verde e as cruzes célticas.
somos piegas e gostamos de tragédias (desde que de longe). e tontos por nos espantarmos assim, por nunca termos suspeitado que toda a gente, até os futebolistas, até a gente das capas das revistas, desespera. tanta literatura para isto: incapazes de, a não ser à bruta, perceber o básico.