vá.agora.já
Hoje à noite, pela última vez em Portugal, sobem ao palco do Teatro Maria Matos 5 cães pastor belga, 5 treinadores, 1 psiquiatra, 1 filósofo, 1 actor e 1 bailarino. O autor (o próprio prefere dizer-se gerente) chama-se Michel Schweizer e o espectáculo Bleib opus#3. Num palco onde grande parte do elenco não fala, discute-se tudo: política e manipulação, liberdade individual e ditadura do consumo, parentalidade e educação. Discute-se uma sociedade em que o deus ditador foi substituido pela ditadura do objecto desejado, uma sociedade que em vez de cidadãos tem agarrados nunca satisfeitos pelo mercado, uma sociedade em que já ninguém quer ser o educador, o dominador, e em que tudo funciona por contrato. Discute-se a passagem da sociedade de consumo à sociedade de consolo, munida de drogas para qualquer estado de alma, da necessidade de euforia à necessidade de aquietação. Discute-se e encena-se o "homem sem gravidade" que, num mundo auto-regulado e convenientemente dopado, já não precisa de se dar ao trabalho de pensar. Além de um dos mais lúcidos e lúdicos espectáculos que vi este ano, Bleib opus #3 é, como eles dizem, uma acção "certamente artistica mas, principalmente, política". Corra, vá, pode ser que ainda apanhe bilhete.