Haja boa fé 3
A Maria João já explicou de forma exaustiva o que tinha de ser explicado acerca da excisão feminina.
Eu continuo, como se vê pelo título do post, preocupada com outra coisa. Continuo preocupada com a boa fé das pessoas. Pessoas como o Rodrigo que com este post iniciou uma discussão que num país civilizado não deveria ter lugar. Como escrevi na caixa de comentários daquela coisa, o que me arrepia é a falta de honestidade intelectual e a indiferença com que se faz uma piada a partir de uma palavra - minarete - que lembra ao autor em vestes infantis aqueloutra palavra evidente que o atira para a desgraça humana que é a excisão feminina. O Rodrigo não pensou que houvesse grande reacção ao seu momento descomprometido e "giro" e deve ter cruzado os braços atrás da nuca a rir-se da confusão criada. É ver a malta a perguntar-se: "espera lá: será que há alguma relação entre a proibição dos minaretes e a proibição da excisão genital feminina?" É esse tipo de perguntas que num debate sério o escuteiro Rodrigo deveria evitar. Mas não: promove. E eu, na caixa de comentários daquela coisa, explico-lhe que ele sabe a resposta à sua provocação, falo-lhe de raspão dos limites da dignidade da pessoa humana, mas ele está-se nas tintas para a seriedade da coisa.
Agora, que a malta reagiu, lá vem o Rodrigo, com um tom sério, fingir que não percebeu a questão, e falar (com confusão) das diversas formas de discriminação da mulher - o que é que isso tem a ver com os minaretes e em que é que isso explica a tua piadinha, Rodrigo?
Agora, que alguém lhe soprou ao ouvido, i.e., na caixa de comentários, com a dignidade da pessoa humana, lá vem o Rodrigo, dizer, ah, pois é, e puxar da cartola, como se tivesse descoberto a pólvora, e como se a dignidade da pessoa humana tivesse alguma coisa a ver com os minaretes.
A questão, Rodrigo, é exactamente a dignidade da pessoa humana: nos sistemas constitucionais como o nosso, não permitimos quaisquer práticas culturais que atentem de forma manifesta contra a mesma. É o caso da excisão genital feminina, com a qual riste à farta.
A construção de minaretes em nada afecta a dignidade da pessoa humana, estás a ver? Coloca-se no plano da liberdade religiosa.
Estas confusões lançadas por quem tem a responsabilidade de ser lido dão cabo de mim.