Para ti tenho sempre paciência, Pedro
A propósito da opinião livre - ouviste(?), Pedro, livre- que produzi aqui, Pedro Lomba vem, com uma ironia que lhe desconhecia e que penso não merecer da sua parte responder como se não me tivesse percebido.
Como nota prévia, gostaria de explicar ao Pedro que tendo sido sua colega durante muitos anos e conhecendo o seu trabalho, sendo a coisa recíproca, e tendo uma opinião muito negativa do tom que se usa nestas bandas em que nos aventuramos para descredibilizar quem queremos contrariar, há devaneios que não tenho e que não espero do Pedro. Nunca o trataria como vejo gente estúpida a tratá-lo simplesmente porque discorda do que ele escreve e espero (?) que ele tenha por inadmissível quem se me refere, por exemplo, negando-me o direito à identidade pessoal (vou poupar o texto de links, porque a escumalha não merece e porque o Pedro sabe do que estou a falar num e noutro caso).
Quanto à resposta, o Pedro lembra-me com carinho do que eu devo saber e do que terei ensinado durante muitos anos aos meus alunos. E diz-me que o correio da manhã não está interessado, para minha tranquilidade, na minha privacidade.
Se não percebeste o que escrevi, o que duvido, eu explico, Pedro: quando o direito (aqui um direito, liberdade e garantia que goza de especial protecção, coisinha sem importância), de alguém é esmagado é o direito de todos nós que é posto em causa. Esta é uma imagem feliz e comum num Estado de direitos fundamentais, sabes bem disso, Pedro, porque também o ensinaste durante muitos anos na universidade.
Continuo a entender, não sou a única, que a constituição de uma comissão de inquérito, que pode deliberar, é certo, restrições à publicidade - o que não invalida a devassa da reserva da privacidade do PM perante os membros da CI e o perigo acrescido de fugas de informação - não se justifica, é excessiva. Continuo a entender, livremente - ouviste (?), Pedro, livremente - que tendo havido escutas ilegais do PM e assistindo nós aos despachos que vêm sendo produzidos sobre as mesmas em matéria criminal, por maioria de razão, não podemos permitir que os senhores deputados na luta partidária possam ouvir telefonemas privados do PM pelas razões reproduzidas nos jornais referidos no texto do Pedro.
Eu poderia alongar-me, Pedro, mas isto, tudo isto, é apenas uma opinião, entendes? Como a tua. Tão válida como a tua. E esperava que assim o entendesses.
O que não posso admitir é a acusação final do teu texto de que há uma contradição assustadora num blogue que se se indigna com a intolerância, mas que, tratando-se do governo e do primeiro-ministro "fica mudo e quedo".
Eu tenho um nome, sabes? Reconheço o teu e espereva que reconhecesses o meu, ao contrário de alguns filhos da mãe que andam por aí. Para tua informação, neste blogue não há concertação alguma acerca do que se escreve. Eu escrevo sobre o que me apetece, livremente, ouviste (?), Pedro, livremente.
Num dos jornais onde escreves, o Público, escrevi um artigo a criticar o Governo, de resto numa altura em que era assessora num departamento ministerial. Quando entendo que é de criticar o Governo, critico, quando entendo que não é de criticar o Governo não critico. De resto, também não me vês dedicada a atacar o PSD. Não é a minha área de especial interesse. Gosto destes temas dos direitos e e de algumas coisas de constitucional e falo de partidos se os mesmos são pretexto para a minha área. Já deves ter reparado. A minha posição sobre este tema seria exactamente a mesma se estivesse em causa a Manuela Ferreira Leite como PM. Custa-me ter de te explicar isto.
Imagina tu, Pedro, que há muitas coisas acerca das quais sei que terias muito de negativo a dizer e da tua boca sai um manto de silêncio. E imagina tu que não me passa pela cabeça fazer um juizo de valor sobre isso. Simplesmente tenho por normal que tu não te pronuncies freneticamente sobre tudo o que acontece na vida.
Pena que do alto do teu novo estatuto não te mereça a mesma consideração. Fico pela pena, que é muita, mas não enfio a insuportável carapuça.