A esquerda de Pacheco malas-artes
Essencialmente, o que Pacheco idealiza é uma esquerda semelhante à que lhe ensinou os truques, uma esquerda sem surpresas, eternamente desvairada, armada de goivas e enxós, saída directamente do tempo em que os comunas comiam criancinhas – saída de um sonho mau, de uma secção inventariada do arquivo da Marmeleira. O que Pacheco pretende é uma esquerda que ele possa instrumentalizar, que o ajude na querela cega (e unilateral – não é bem uma querela, portanto) que mantém com Sócrates. Uma esquerda amestrada e catalogada, que ninguém leve a sério; uma esquerda que não cubra Pacheco da sombra de que ele se desabitua. Ao mesmo tempo, o post é bem revelador do espaço que Pacheco entende dever ser ocupado pela esquerda: à margem. Algo que ele possa usar e deitar fora – a tal esquerda que confunde um maluco violento com o povo. Essa é a esquerda de Pacheco. Facilmente controlável com encómios (antes) e açaimes (depois). Em Pacheco nota-se ainda um saudosismo que só lhe fica bem não esconder, e um incómodo manifesto por a esquerda não ser aquilo. Aquela chiclete mastigada e mastigável. À "restante" esquerda, "Pacheco" põe aspas e apelida de serventuária. De resto, ler Pacheco a protestar contra o "insulto sistemático contra as pessoas" dá vontade de rir.