por ser natal ainda parece mais mal
a joão já deu aqui conta da sua perplexidade perante as 'mensagens de natal' de representantes eleitos do estado laico, mas eu até vou mais longe. gostava de perceber por que carga de água a televisão pública passa uma mensagem de um membro do clero como se se tratasse de tempo de antena obrigatório por lei ou de mais uma mensagem de um representante estatal. alguém me pode explicar em que preceito legal se funda a cedência graciosa de espaço publicitário, com dignidade de comunicação ao país, a uma organização religiosa? espaço que essa organização usa, como foi o caso, para, em vez de celebrar os apregoados valores de concórdia e paz associados tradicionalmente à quadra, atacar todos os que, tendo-lhe por interposta pessoa empresarial pública e sem que alguém lhes tivesse perguntado a opinião ou solicitado permissão cedido o tal espaço publicitário em prime-time, não crêem lá no que ela defende?
agradeço esclarecimento (diria que é para estas coisas que existe a comissão da liberdade religiosa, se não tivesse já dado conta de que serve para nada).
e, já agora, sobre a mensagem publicitária em si, que o correio da manhã aqui publica na íntegra (prerrogativa de uma empresa privada), se, como estatui josé policarpo (espantosamente identificado no cartão final da mensagem como 'sua eminência reverendíssima' -- deve ser mais ou menos nestes termos que os líderes religiosos do irão são denominados na tv pública, mas aquilo por acaso é um regime teocrático) 'não é o facto de alguém não acreditar em Deus que faz com que Ele não exista'; se afirma que 'Nós, os crentes, não inventámos Deus (...) Ele nunca permitiu que a Sua notícia se apagasse do coração humano', como raio se preocupa em certificar que 'Deus não seja excluído do nosso mundo e da nossa história'? deve haver aqui qualquer coisa mal explicada: um deus, por definição, não se exclui de nada -- ele é tudo e está em todo o lado, e tal. certo, sr cardeal? se fosse a si, então, ralava-me um bocadinho menos com os ateus e mais com as convoluções da sua crença -- é que quem o oiça fica com a ideia de que o seu deus existe menos, ou deixa mesmo de existir, se eu não acreditar nele e o disser quando, onde e como me der na realíssima. e de caminho começava a pensar em agradecer as benesses com que eu e os outros como eu lhe temos cumulado, com paciência e generosidade, a organização.