Desventuras no Portugal dos Pequenitos
(reutilização de um post antigo)
Ao contrário do que o título possa indicar, não venho falar aqui da obra de Cassiano Branco e Bissaya Barreto. Seria redutor porque cada vez mais estou convencida que este é um país miniatural (e também não estou a falar de pequenez de espírito)... literalmente! A reflexão matinal deve-se à intenção de ir à depiladora amanhã ou assim. Ora qualquer ida à depiladora relembra-me o que sofre alguém que ultrapasse um pouco as medidas médias do típico português. Ou, neste caso, portuguesa... inevitavelmente vou deitar-me na marquesa da senhora e só tenho duas soluções, ou fico com a cabeça pendente, o que não é lá muito aconselhável dado o periclitante estado dos meus músculos do pescoço, ou são os pés que ficam de fora. Se no Verão a coisa ainda passa, chegada ao Inverno essa posição pendente das minhas extremidades inferiores provoca, por um qualquer mecanismo de circulação sanguínea, um extraordinário arrefecimento dos pés que é, a todos os níveis, desagradável.
Nunca perceberei esta história do tamanho das marquesas e camas hospitalares (as depiladoras compram as coisas nos mesmos fornecedores), será que existe um tamanho padrão feminino e outro masculino? Caso sim, será que custaria muito jogar pelo seguro e comprar sempre a maior? Isto parece ser pouco importante, afinal estou a falar de depilações e ninguém morre se aguentar o desconforto durante uma meia hora, não é? Imaginem, contudo, internamentos hospitalares quando somos obrigadas a estar deitadas em camas a que faltam uns bons centímetros. É uma imagem muito agradável, oh se é. Felizmente sou uma criatura a dar para o saudável e só tive que dormir em camas de hospital por alturas dos partos dos meus filhos. Ficaram-me gravadas as posições a que o diminuto tamanho das camas me obrigaram, o contorcionismo imperou. Apesar de esperar que as camas dos serviços de homens sejam maiores tenho a certeza que os pobres coitados que fogem da medida-padrão masculina também devem penar um pouco. Aliás, lembro-me de queixa parecida de um blogger (ups, já não sei quem foi) que, pela conversa, deve ser um grandalhão, à medida, por exemplo, do meu desgraçado irmão que, com os seus 2 m de altura, vê dificultados os gestos mais banais do dia-a-dia. Imaginem, por exemplo, o que é para alguém grande lavar a loiça nas cozinhas portuguesas tradicionais. Cá para mim as cabras das pias estão instaladas de forma a servir gente com pouco mais de 1,60m , ok, 1,70m, vá... As costas dos dos calmeirões sofrem um verdadeiro martírio. E há mais... ir ao cinema e ficar confortável, sem ter que meter as pernas no pescoço, só mesmo nas coxias ou na fila da frente. Viagens de avião, ui, é melhor nem falar disso.
A população portuguesa está, pouco a pouco, a crescer, espero que comecem a adaptar estas - aparentemente pequeninas - coisas a uma nova realidade (é um dos meus desejos de ano novo). Infelizmente eu e mais uns quantos desgraçados e desgraçadas nascemos num país de minorcas que não tem a mínima piedade por quem tem comprimento XL.