para o rogério, mas sem a parte do amor (joão miguel tavares responde a rogério costa pereira)
o rogério escreveu isto a propósito desta resposta do joão miguel a este meu texto. agora o joão miguel responde ao rogério que lhe respondia a ele que me respondia a mim (uf, a ver se paramos com isto antes de 2011)
Caro Rogério
Gostava muito, mas mesmo muito, que por um momento levantasse a estrambólica hipótese de eu não ser um idiota chapado. Admito que seja difícil, mas em nome, sei lá, da quadra natalícia, atrevo-me a pedir-lhe que por apenas cinco minutos imagine que o meu QI é ligeiramente superior ao de uma amiba, e que volte a ler aquilo que escrevi no seu blogue em resposta ao post da Fernanda. Eu espero um bocadinho.
Já está? Então talvez possamos assentar em algumas premissas básicas, para a partir daí conseguirmos encontrar uma plataforma mínima onde apoiar a nossa conversa.
1. Há uma diferença substancial entre defender que não é exigível pedir a um colunista que prove certas afirmações e defender que um colunista pode dizer tudo aquilo que lhe vem à cabeça. Eu não acho, caro Rogério, que amanhã possa ir para um jornal escrever, out of the blue (desculpe não saber latim), que a actividade favorita de um ministro é roubar caixas de Playmobil. A sério que não acho.
2. Agora, imagine que um jornal respeitável tem três funcionários da Toys’r’Us a testemunhar que esse ministro foi efectivamente apanhado a escapulir-se com uma quinta dos póneis debaixo do braço. É ou não legítimo eu escrever num jornal: “é inadmissível um ministro andar a roubar caixas de Playmobil, ele deve uma explicação ao país”? Está dentro dos limites da minha liberdade de expressão? Ou, pelo contrário, pode ser considerada uma difamação, por estar a acusar esse ministro sem ter provas?
3. O ministro, ou algum dos seus amigos, pode perfeitamente vir a terreiro perguntar: “Que provas tem você do roubo da quinta dos póneis da Playmobil? Não houve qualquer roubo. Tratou-se de uma cabala dos funcionários da Toys’r’Us. O senhor colunista difamou o senhor ministro e vai levar com um processo.”
4. E eu levo com um processo. Como é que eu provo em tribunal que o senhor ministro roubou a quinta dos póneis? Na verdade, não tenho como provar, no sentido jurídico do termo. A única coisa que posso dizer é: li num jornal respeitável, os argumentos e os testemunhos pareceram-me válidos, escrevi o meu texto a partir daí.
5. Diria que a minha actuação foi ilegítima, caro Rogério? Diria que eu devia ser condenado por estar a acusar injustamente um ministro de um roubo de uma caixa de Playmobil? Ou recusa, à partida, a minha legitimidade para escrever sobre o ministro e o roubo da quinta dos póneis baseado apenas numa notícia de jornal?
Fico ansiosamente a aguardar a sua resposta.
João Miguel Tavares, ou, se preferir, “a amiba”