Manners before morals
(...)Estamos perante um cínico que ainda não saiu do armário, mas que já abriu as portadas e permitiu a contemplação do vazio que o envolve. Não tem projectos nem ambições, não tem doutrina nem manifesto, não quer nada; apenas que o deixem berrar palavras de ordem. Ouvindo-o na TSF, no seu exercício semanal de anti-humor, fica patente que a realidade, mais do que interpelar, o aborrece. É nesse aborrecimento existencial, um spleen remunerado, que tem alinhado com a maralha anti-Sócrates por razões meramente circunstanciais. Porque é fácil, porque se tornou colunisticamente correcto
(...) O pior, todavia, não resulta desta epistemologia de Procópio, antes da impotência que se cultiva como ideal. O texto que lhe valeu um processo assumia serem verdadeiros, e suficientes, os boatos que sobre Sócrates são derramados desde a campanha para as eleições de 2005. Este Tavares não utilizou as informações para questionar a sua veracidade ou exactidão, nem para clamar por mais investigação ou justiça, antes as aceitou como acusação provada e a pedir a sua mão de carrasco. Vai daí, tratou de espalhar a crença de que Sócrates é criminoso. O que tal opinião faria ao visado e aos seus – familiares, amigos, colegas, parceiros, terceiros – ou as consequências de se difamar um cidadão acerca de quem se constrói uma acusação com base no que se leu nos jornais, já não o entusiasmava, muito menos lhe despertava interesse. Ele era um publicista, e um publicista publica. Publica não importa o quê, porque é o que acha em si próprio; trata-se do direito à livre expressão de uma qualquer subjectividade. Estamos, pois, de volta ao futurismo: a opinião é movimento, passagem, jorro. Ai daqueles que tentem travar o progresso da infâmia.
Valupi, Ego Sum
Este post do Valupi põe a nú uma das maiores falhas de um certo tipo de colunismo português, que se tornou num mero exercício literário, abdicando de qualquer tipo de responsabilidade democrática no exercício da sua liberdade. "A livre expressão de uma qualquer subjectividade" é (mais) uma estética sem ética.