O pior burro é aquele que não quer aprender
Os saberes médicos e jurídicos construíram para si um estatuto que desautoriza facilmente quem não for um especialista certificado dessas áreas. Todas as ciências o fizeram. Mas estas duas áreas, por intervirem em questões que dizem respeito à vida quotidiana das pessoas, têm-se deparado com movimentos de negociação da sua autoridade e saberes por parte dos (ditos) leigos.
Em Portugal, cada vez que se fala em diversificar a formação de juristas e em dar acesso à magistratura a formações não jurídicas, cai o Carmo e a Trindade.
Daí que continuem a ocorrer disparates como a recente desculpabilização de um pedófilo em virtude dos sinais fisiológicos da vítima (a criança teria tido uma erecção), ou a exigência, na atribuição de um nome de um género diferente ao de nascença, de manifestações ultra-ortodoxas de heterosexualidade por parte do requerente.
Muito útil seria existirem programas de formação contínua (como alguns financiados pela Comissão Europeia), por exemplo em questões relativas à sexualidade e ao género (entre outras) uma vez a ignorância é grande; mas, pior do que isso, desconfio que não há nenhuma disponibilidade para aprender.