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A propósito de um texto de Miguel Morgado sobre os apoiantes de Obama

O Miguel Morgado leu as declarações de apoiantes de Obama na New York Review of Books e não gostou que muitos se referissem o racismo como sendo a única explicação possível para uma eventual derrota do candidato democrata. Para o Miguel isto desqualifica as ideias dos republicanos e de todos aqueles que não pretendem votar Obama, o que não é admissível em democracia. O problema é que o Miguel se abstém de comentar as razões que justificam essa posição. Ninguém se limita a dizer 'quem não vota Obama só pode ser racista'—eles dizem algo mais complexo, o que faz toda a diferença.


Por exemplo, Mark Danner, depois de traçar um retrato muito negativo da administração Bush e de associar McCain às posições que causaram o desastre, escreve:

 

'And yet there is the radicalism of that face. It supplies the obvious answer to the obvious conundrum of this election: Why, given "the fundamentals"—the historic unpopularity of the incumbent party and the tottering economy, which should make certain an opposition landslide—is the contest so close?'

 

A raça é uma variável necessária para explicar aquilo que para Danner (e para outros) não tem explicação. Ou seja: como é possível que perante a situação calamitosa dos EUA e quando as propostas de McCain não permitem inverter o que se passou nos últimos 8 anos, a eleição ainda não está decidida? A questão racial está muito longe de ser gratuita—ela pode ser necessária para tornar inteligível a posição de uma parte significativa da população americana. Mais: a própria campanha de McCain não sai inocente de tudo isto, pois tem contribuido de forma significativa para legitimar essa ideia. Não podemos dissociar uma campanha baseada no medo e na desconfiança—que procura caracterizar Obama como sendo o Outro, o inimigo, o estranho—da questão do racismo. Acusar os democratas de demonização do adversário só convence quem não tem acompanhado a campanha (ou então se nos chamarmos André Pessoa, que é alguém que vive num mundo que é só dele)

 

O Miguel tem razão numa coisa: a desqualificação existe. Mas não pelas razões que ele aponta. A partir de certo ponto a desqualificação é inevitável, pois ela é necessária para compreender um conjunto de posições que são em si mesmas incompreensíveis. Mas a desqualificação é sempre uma resposta a uma situação de ininteligibilidade—não é um ponto de partida ou pressuposto da análise. O Miguel pode discordar. Não pode é ignorar os juízos que estão por trás das posições que ele tenta reduzir a uma espécie de racismo invertido.

 

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