e é mais uma mui pertinente reflexão
Sim, pode-se dizer que eu estou a fazer experiências com títulos a ver qual é mais esotérico e/ou tontaço. Por enquanto ainda ninguém me chamou a atenção, pelo que começo a suspeitar que ninguém, ninguénzinho, lê esta coluninha.
Enfim, cada um tem o que merece. Vamos então ao assunto, que é mais ou menos o mesmo da semana passada, mas em diferente. Se anteriormente falei da maneira como se vestem e adornam os jogadores de futebol, dos transportes mui másculos de emoção em que se afundam a cada golo e daquela notória cultura de balneário, para concluir que nenhuma dessas demonstrações “heterodoxas” de virilidade abala minimamente a fé dos adeptos na impoluta masculinidade dos seus heróis, hoje completo a reflexão com a questão da nacionalidade e daquilo a que se chama “raça”.
Este tema já foi bastante explorado, sobretudo em países como a França, tão conhecida pelos seus problemas de integração de “estrangeiros” e de “culturas diferentes” e pela sua aversão ao “sangue impuro”, mas onde muitos dos melhores jogadores, a começar por Zidane, são de origem argelina ou da África negra. Por cá também já foi abordado umas tantas vezes, a última das quais, que me recorde, a propósito de Francis Obikwelo, o velocista de origem nigeriana naturalizado português em 2001: em casos como o dele, como nos casos dos inúmeros futebolistas estrangeiros que se vão naturalizando ou, não o chegando a fazer, passam anos no País a jogar em clubes nacionais, não se levantam vozes dos tais que acham que “estamos a ser invadidos” e mais não sei o quê.
Isto é tanto mais extraordinário quanto o argumento mais utilizado pelos ditos “patriotas” é de que os estrangeiros vêm para cá “tirar trabalho aos portugueses”. Ora havendo tão bom rapaz tuga a sonhar com uma carreira milionária no futebol, não se compreende que não tenha já havido um levantamento de rancho generalizado contra esta pouca vergonha de encher as equipas nacionais com gajada de todas as cores e proveniências. É chocante que nem nas claques futebolísticas, que, diz-se, andam pejadas de “nacionalistas”, surjam protestos. Então andam preocupados com os africanos e os ucranianos nas obras a ganhar o ordenado mínimo, sem capacete nem segurança social, e nem um pio sobre os malandros dos craques estrangeiros? Eis um belo tema de reflexão para o 10 de Junho. Digo eu, claro.
(texto publicado na coluna 'black out' do DN Sport de sábado, sem link)